Os Exús da rede.

Ele está nas encruzilhadas, nas porteiras, nas carrancas. Mensageiro dos orixás, ele é o abre-caminhos. Os orixás não se revelam assim à toa, mas com Exú é tudo mais fácil, mais rápido e mais à mão. Mas se Exú assusta os mais comportados, ele também é o Hermes do panteão grego ou São Pedro do altar católico. Já na membrana digital, na Internet, ele tem outro nome e se chama Portal.

E porque a primeira pergunta do internauta neófito é sempre “por onde começo”, e porque há uma necessidade urgente de justificar investimentos, e principalmente porque todo mundo parece que tem sempre as mesmas idéias, pipocam aqui e ali mais e mais portais na Internet brasileira. Nas encruzilhadas, onde esperam-se placas cheias de setas, eis que surgem bibliotecas, shopping-centers, parques temáticos, complexos hoteleiros, e também singapuras, favelas e mangues crivados de palafitas. Agora, o pior, é que todos tem a mesma cara ou melhor, a mesma falta de cara.

Se tentarmos entender o que é um portal, podemos dizer que é um enorme site de um provedor de acesso ou um provedor de acesso de um enorme site que tem por objetivo indireto de guiar o internauta em sua navegação pela rede e o direto de tornar-se um media site.

Nada mais equivocado do que chamá-los de portais porquanto não são entradas para a Internet e sim cárceres de conteúdos. Onde lê-se entrada para a Internet, deveria entender-se saída e onde vê-se cárceres de conteúdos, subentende-se cárcere do internauta. Um portal deveria portanto ser uma saída para a Internet e tornou-se um cárcere do internauta.

Quando falo de saída para a Internet penso particularmente no que é de fato essa nervura de bits. Não há lógica na Internet, não há ordem nem tampouco principio e fim. Há sim um conceito que se limita a ser um fluxo livre de informações, um espaço sem dimensões nem tempo, no qual o indivíduo é livre para transitar, armazenar e construir. É isso a Internet. E não tentemos organizar esse magma porque ele é por principio gerador anárquico e nisso está sua força. Um portal tem por missão sair de um espaço solitário para um universo povoado das mais variadas experiências.

E quando falo em prisão, vejam a lógica: o provedor de acesso configura o browser de forma a ter a sua Home Page como página default do mesmo. Então, enxergando nisso um potencial enorme de comercialização de espaço publicitário, a idéia é resolver a navegação do seu cliente naquele site ou portal. Então, ele persegue conteúdos mais e mais atraentes que aprisionem o internauta. De repente ele resolve não mais somente cobrar pelo acesso mas também pelo conteúdo. Está configurado a intenção carcerária.

Do ponto de vista prático, o que vemos hoje e particularmente nas últimas semanas é um pipocar maluco de iniciativas paralelas de portelização da Web brasileira. UOL, ZAZ, Starmedia/IBM, MSN, Zip.net, Yahoo, AOL, sem falar em todos os sites “portais” dos provedores de acesso se engalfinhando atrás de um público/audiência crescente, é certo, mais ainda parca.

Mas isso nem é o mais importante. O mais estranho nisso tudo é o fato dessa explosão estar em desproporção diante de uma certa lógica da Internet que se quer multi-faceteda, focada e customizada.

Não fosse apenas pelo fato de estarem canibalizando-se uns aos outros, os mau chamados portais não tem caráter nem tampouco parecem ser administráveis.

Talvez eles sejam um mau necessário. Talvez? não, com certeza, pois foram e são a força que propulsiona a Internet como mídia. Mas em sua própria lógica inserem-se as sementes de seu fim ou se preferirem, transformação, transformação essa que passa necessariamente por um processo de pulverização de seus conteúdos/audiências.

Mas quando vejo os veículos de comunicação, os verdadeiros donos da informação aglutinando-se, vide prostituindo-se vergonhosamente nesses cárceres, fico preocupado com o nosso negócio publicitário. A mídia volta a ser comprada por audiência, quantidade de público e adiamos a chance de buscar qualidade e eficiência.

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