O Yin e o Yan dos meios.

As vezes me preocupa um pouco aquele discurso que já virou lugar comum: a mídia Internet é interativa e a TV é passiva. Essa afirmação é óbvia mas nem sempre nos perguntamos o porque da diferença. Preferimos aceitar essa máxima como dogma.

Mas queria sugerir alguns pontos que longe de procurar respostas pretende tão somente acordar o debate.

O ambiente: passividade, interatividade ou atividade on demand?

Interatividade na minha concepção significa “ação com participação”. Em outras palavras, é uma ação do agente com participação inteligente do objeto. Interatividade significa no limite que não há objeto, apenas agentes. Gosto da metáfora do vírus. Sem portador, ele não tem vida. É quase um mineral. No entanto, quando encontra um agente, passa a ter vida, reproduzir-se da interação com o agente. E aqui, cabe definir a fronteira entre o que é interatividade e on-demand. Definitivamente, os dois conceitos são distintos. On-demand é a TV. Eu clico, ela acende. Eu zapeio, ela troca de canal. Ou, on-demand é a maioria ainda do que se vê na Web hoje. Clico num hipertexto, ele me dá a matéria que pedi. Só isso.

Já interatividade sugere que há inteligência do lado de lá da interface, seja ela uma inteligência pré programada como em um game, seja ela humana como em um chat. O exemplo máximo de interatividade que podemos imaginar hoje são experiências de imersão na interface.

A Web é muito útil pois ela automatiza e multiplica a capacidade de entrega on-demand de conteúdos. Mas a Web só é revolucionária quando consegue ser interativa, coisa que jamais a TV ou as outras mídias passivas podem ou poderão ser.

Os agentes: espectadores ou expectadores?

Em uma mídia passiva não temos usuários, temos espectadores, ou seja pessoas que assistem. Está caracterizada, através do público a vocação das ditas mídias passivas: ele não quer nada, ele assiste. O querer, a gente pesquisa, mas não mudamos on demand. Os programas “interativos” da TV, os “você decide” são o máximo de interatividade que se pode alcançar nessa mídia. Assim mesmo, o que vemos é uma simulação de participação, uma vez que a saída é sempre escolher pela maioria das respostas e não dar a resposta que pedi e quero. A eterna lógica do mínimo denominador comum, pensamento chave das mídias de massa, novamente abafa qualquer tentativa de tornar interativa a mídia.

Já na mídia dita interativa, não temos espectadores e sim expectadores ou seja pessoas que esperam. Aqui, igualmente, está sacrementado o objetivo máximo e ideal dessas mídias para o público: ele quer escolher (on-demand) e idealmentemente interagir.

A Web é extremamente competente para atender expectadores e ainda muito primária para espectadores. Espectadores procuram emoção, sensação, pulsos inconscientes. Na Web isso ainda é tecnologicamente impossível. No entanto, na mídia passiva, expectadores são e serão sempre frustrados. Aí está o nicho da Web que ainda devemos aprender a explorar.

Tendência: de que convergência estamos falando?

Durante décadas, a mídia passiva reinou soberana. Eis que surge um obstáculo dialético: a Internet. E agora falam em convergência. Convergência de quê? Dos devices, dos meios de transmissão, concordo, vamos nessa. Mas convergência dos conceitos não. Não ainda. Cabe-nos entender ainda que somos seres passivos, absorventes, negativos tanto quanto ativos, expansivos, positivos.

A mídia deve ser igualmente passiva e ativa, fêmea e macho, sol e lua, Yin e Yan.

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