A histeria do virtual.

Lembro-me que no ínicio, sempre que o assunto da mesa ao lado era Internet, eu levantava a orelha, aguçava o olfato e gesticulava impaciente como se o assunto me dissesse respeito diretamente. E mais, eu geralmente ficava indócil com o teor generalista das conversas. Ou pior, quando o assunto era temperado com irritantes faits divers do tipo hacker invade o pentágono ou dona de casa ingênua é seduzida por garanhão safado da Internet, eu me desesperava com o destino estúpido da humanidade. A cada instante me dava aquela irresistível vontade de levantar da mesa e desmascarar os safados. Afinal de contas estavam mexendo com a minha Internet. Que atrevimento! Isso para não falar dos bacanudos arrotando frases aleatórias colhidas fora de contexto nesses manuais de auto ajuda que abarrotam as bancas de jornais todas as semanas.

Agora o fenômeno se reproduz estranhamente e às avessas. O assunto virou onipresente. Em todas as rodas, vira e mexe, fala se da Web. Podemos dizer que vencemos os céticos. Mas de uma arrogância preconceituosa pulamos num piscar de olhos a um outro tipo de prepotência igualmente irritante. Falo evidentemente deste upgrade repentino que os garagistas pioneiros sofreram na hora em que todos as luzes e todos os focos se voltaram para eles e suas idéias precursoras. E quando falo de luzes, estou me referindo obviamente a dinheiro.

Sabem aquela história do pé rapado que ganha na loteria esportiva e compra um tanque de ouro para sua esposa lavadeira? Pois então, como vocês bem sabem, o dinheiro é cego, surdo e mudo. Mas é também extremamente exigente. Agora ele chove aos borbotões e molha a campina seca e fértil. Mas o sertanejo sabe que não adianta plantar nestas rajadas generosas dos céus porque o sol volta logo e o milho verdinho aborta suas espigas.

Mas o primeiro impulso é quase irresistível: alçar-se ao pedestal dos predestinados, fazer pouco caso dos conselhos e da experiência e sair atirando para todos os lados. Poucos se dão conta que existe savoir faire além da Internet. Poucos humildemente reconhecem que nem tudo é tão diferente e novo na data esfera.

Porque se é verdade que uma boa idéia germina e cresce rapidamente neste novo cenário, a concorrência também é infinitamente maior. Isso para não dizer que praticamente não existe mais segredos. Copiar e fazer melhor é baba. Boas idéias viram commodities rapidamente sem pudores e não me toques.

Quem sabe o valor, o verdadeiro valor de um negócio dot com esteja muito além da idéia?

Porque se é verdade que hoje está muito mais fácil encontrar dinheiro aparentemente fácil para iniciativas na web, devemos nos lembrar que o dinheiro é o mais volátil dos combustíveis.

Quem sabe o verdadeiro valor de um negócio dot com esteja muito além do dinheiro?

Então se não é a pioneira idéia tampouco os generosos recursos, o que uma empresa dot com deve perseguir a todo custo?

Quem sabe não devessemos esquecer os complexos do começo e baixar a crista do momento presente e pensar um pouco na importância da construção de uma marca.

Quem sabe o valor de um negócio, com com ou sem com, não esteja diretamente ligado ao calor da marca?

E como é que se constrói uma marca? Com comunicação planejada e criativa, ou alguém duvida dessa assertiva? E não se faz planejamento e criação afoitamente. Comunicação integrada e inteligente não se faz à doidivana. Nem no mundo físico, nem no virtual, nem no transcendental.

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