Internet não existe

Eu me lembro, no comecinho, a gente se reunia para desabafar: “será que essa coisa de Internet vai dar certo?” e todos começavam a chorar as pitangas.

Mas o fato é que o entusiasmo era diretamente proporcional à nossa miséria.

Mas de repente, alguém descobriu uma mina de ouro lá em Wall Street e começou a corrida do ouro e sua consequente corrida de diligências que, nas palavras da maior revista do país, vai mudar o mundo.

Das duas uma: ou os editores da tal revista passaram a semana em Jericoacoara e perderam a razão ou estão totalmente descronizados.

Para mim, falar da Internet nesses termos alucinados soa estranho.

Este endeusamento antropomórfico da Internet é um despropósito.

O que diabos é essa tal de Internet? Porque raios estamos querendo reinventar a roda, estressando milhões de pessoas com tábulas da lei fajutas?

Fala-se da Internet como se ela existisse, como se fosse possível cercá-la e defini-la. Não importa o caminho que os impulsos nervosos fazem para acionar a minha mão quando cato milho no teclado. O que interessa é a natureza desses impulsos que diferem dos outros que percorem minhas sinapses quando coço o coco.

Na tal de Internet é a mesma coisa.

Querem ver um exemplo absurdo?

Reunem-se notáveis empresários para discutir o impacto e a importância da eletricidade nos seus respectivos ramos de atividade. A conversa começa e se encerra em dois minutos, simplesmente porque não há o que conversar. Se o tema da conversa é eletricidade que chamem eletricistas para debater. Com o assunto Internet é assim: está na ordem do dia e os mais inacreditáveis paraquedistas da face da terra acham que a Internet vai revolucionar o mundo. O mote é o seguinte: “não sei o que vou fazer mas seja o que for, vai ser na Internet e vou arrotar milhões em poucos meses”. Ou, retomando a analogia acima, “não sei o que vai ser, mas não importa, se tiver eletricidade, vou ficar rico”. Perceberam o ridículo?

Desse raciocínio enviezado inventaram uma nova categoria de empresas, as glamorosas “dot com companies”. É tão absurdo chamar uma livraria virtual de “dot com company” quanto dizer que a padaria do Manoel é uma “Electicity company” porque os fornos de assar pão são elétricos.

Não percamos mais o nosso tempo falando de Internet pelo amor de Deus. Vamos queimar as pestanas pensando em negócios. Vamos vender livros? OK. Qual será a estratégia? Para quem? De que forma? Com que investimentos? Quais as pessoas, recursos, etc? Que vai ser na Internet é tão óbvio quanto apertar um interruptor e ver a luz irromper no ambiente.

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