Internet, start-up´s e propaganda.

É demente imaginar que em um país com 3 a 4 milhões de pessoas conectadas à Internet mais de 7% de todos os investimentos publicitários na Rede Globo em Janeiro de 2000 e 8% na Editora Abril, sejam feitos por empresas ligadas à Web (5% do total do investimento publicitário nas mídias Revista, TV e Jornal).

É mais demente ainda pensar que a receita destas empresas se equipara, quando muito, à de uma pizzaria ou posto de gasolina.

Isso sem falar da montanha de dinheiro para aquisições, investimentos de infra-estrutura, compra de mão de obra inflacionada, etc e tal.

O que está acontecendo exatamente? Está sobrando dinheiro ou entusiasmo? Histeria coletiva, corrida de diligência ou agressividade calculada?

Não importa muito analisar os argumentos pseudo-racionais que justificam tanta grana em circulação. Ficaríamos assustados com a simplicidade das motivações.

Mas se olharmos apenas para o fenômeno, sem conjecturas mirabolantes e proféticas, é simples de entender: estão todos correndo contra o relógio, comprando a parca clientela a preço de ouro e alimentando as expectativas especulativas dos investidores numa espécie de furacão lissérgico.

O raciocínio é mais ou menos o seguinte: “tenho uma grana que os investidores disponibilizaram. Meu desafio é, em X dias, colocar para dentro do site Y pessoas cadastradas, ter Z páginas vistas ou mostrar o barulho na mídia para os investidores. Se eu alcançar essas metas, eles liberam mais com uma nova meta. E assim sucessivamente num toma-lá-da-cá danado.”

É uma pressão terrível que só tem uma saída: investir muito em publicidade (e pouco no produto/serviço/site). Ou, investir antes em publicidade (e depois no produto/serviço/site).

Aí, precipitação de um lado, correria do outro e o resultado é uma propaganda de péssima qualidade, afoita, sem conceito pra cá e um site ruim, feio, desapontador, com falhas de segurança, navegação, conteúdo, pra lá.

Nem é preciso exemplificar, basta abrir uma revista ou assistir a TV e em seguida correr para o computador para acessar a promessa. Tédio aqui, frustração ali.

Outra: quem falou que ônibus e taxi são efetivos para uma empresa “dot.com”? Duvido que algum profissional de mídia seja capaz de justificar tecnicamente essa escolha. É a chamada tática de mídia “Maria vai com as outras”. Ou chute, precipitação.

Exceções existem, claro, raras e louváveis.

Agora, será que alguém duvida que os tais investidores são pessoas com os pés bem fincados no chão e que estão querendo ver, lá na frente, resultados concretos?

Alguém duvida que os internautas, os consumidores, são pessoas que não têm absolutamente nada a ver com essa lógica sem lógica?

Tudo em nome de um mito que ganhou uma importância inacreditável: o mito do “tenho que ser o primeiro, entrar antes da concorrência”. Quase um vale tudo. É o mito da Amazon, é claro. Mas, quem pode afirmar que ela foi a primeira livraria virtual do planeta? Não foi. O sucesso da Amazon não pode ser creditado unicamente ao seu pioneirismo. Isto é uma visão tacanha e superficial da realidade. O que fez a Amazon foi sua proposta totalmente original, com um serviço a cada dia melhor e mais completo, conteúdo de alto nível, variedade de oferta, preço, etc, etc, etc. Basta ser um pouco mais calejado nesse mercado para lembrar-se de uma quantidade enorme de iniciativas igualmente pioneiras na Web que simplesmente desapareceram. Quem se lembra do Pointcast, Marimba, Bezerk, Firefly, Onlive, Palace, Vice and Virtues, Alphaworld, Pathfinder, The Well e mais um sem número de lojas web afora? Foram os primeiros, todos falavam deles e de repente, hocus pocus, sumiram, foram vendidos, incorporados ou descontinuados. Idéias que atraíram investidores numa primeira/segunda/ terceira rodada e só.

Mas e aquela pergunta óbvia: quem está ganhando agora com este frenesi? Os internautas? Não muito. Os investidores? Ainda não. Os tocadores de diligência? Só salários e promessas. As produtoras? Trabalho e stress. Sabem quem? Os veículos de comunicação e as agências de propaganda.

Daí uma conclusão simples: estas empresas “ponto com” estão nas mãos da mídia (a velha principalmente) e das agências de propaganda. Se as campanhas fizerem com que as metas sejam alcançadas, uma graninha nova aparece. Menos mau. Senão, bye bye. Isto no curtíssimo prazo.

Clientes “dot com” são mais voláteis e infiéis com suas agências que o público internauta que pretendem atingir. Investidores “dot com” idem.

Aí, fica valendo aquela coisa mais velha que a mídia velha: construção de imagem e fidelização do cliente. Para construir uma imagem, você precisa de uma boa agência de propaganda. Para fidelizar um cliente, um excelente serviço.

Não basta ser o primeiro a ser lançado, o primeiro a anunciar. Isto é uma contingência do mercado? OK, vamos nessa, mas isso é pouco. Tem que haver posicionamento, mensagem coerente e simples, conceito. Em outras palavras, tem que ser propaganda, a boa propaganda.

Porque senão, sabe esse monte de dinheiro que você está investindo (se você for um investidor) e esse monte de dinheiro que você está gastando (se você for um tocador de diligência)? Sabe essa empresa que vai fazer de você um milionário “ponto com”? Bye bye até nunca mais.

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