Histórias são sempre um emaranhado de fios e fatos trançados por um olhar. Não existem histórias imparciais. E é por isso que são verdadeiras.
Hoje eu vou contar uma.
A história da Internet, sob o ponto de vista do negócio. Mas atenção, é uma história. Portanto, obviamente pessoal. Obviamente parcial. Obviamente verdadeira.
Fase 1 – BARBUDINHOS.COM
Barbudinhos da Vila Madalena, nerds e maconheiros sonhavam com um mundo democrático e puro, no qual poderiam inserir-se ao abrigo da desgastada sociedade de massa.
A Internet era essa bandeira.
Estavam construindo uma rede open-source, não comercial, escancarada para todas as tendências e credos.
Assim nasceram as lindas iniciativas dos pioneiros de primeira hora.
O norte desses pioneiros, portanto, era O SONHO.
Fase 2 – ENGOMADINHOS.COM
Mas eis que os barbudinhos estavam passando fome.
Daí, chegaram os engomadinhos com esmolas atraentes.
Alguns barbudinhos toparam e o negócio passou a se sustentar às custas do óbolo dos engomadinhos. Outros barbudinhos desistiram.
O norte dos já nem tão barbudinhos era o SUSTENTO.
Fase 3 – INVESTIDORES.COM
Apareceram mais e mais engomadinhos, só que esses aí não eram mais oportunistas. Eram investidores profissionais.
Barbudinhos foram perdendo participação. Business plans e outros bichos foram servindo de mola para o negócio.
E os investidores deixaram-se contaminar pelas perspectivas.
Como uma bola-de-neve, outros e mais outros dinheiros aportavam diariamente numa cascata exponencial.
Agora o norte dessa gente toda era conseguir MAIS INVESTIDORES.
Fase 4 – MARKETEIROS E PUBLICITÁRIOS.COM
E, de repente, algum contador desavisado teve a infeliz idéia de fazer contas.
Tinha muito dinheiro na jogada e perspectivas de retorno totalmente sem lastro.
Os contadores avisaram os engomadinhos que, por sua vez, arrocharam os barbudinhos.
E, para controlar os barbudinhos, chamaram uns marketeiros.com profissionais que por, sua vez, contrataram uns publicitários.com
O norte aqui passou a ser: CORRE NEGÃO.
Fase 5 – CONSUMIDORES.COM
A pressa era tanta e o desespero tamanho, afinal de contas o equilíbrio de um castelo de cartas não é tão simples, que barbudinhos, engomadinhos e contadores, todos .com, esqueceram de uma agente na história: o público / consumidor. O .com, claro.
E o consumidor começou a questionar, xingar e espernear.
Porque o público estava pouco se lixando para os barbudinhos, muito menos para os engomadinhos, contadores e marketeiros.
Ele queria conteúdo e serviços.
O norte agora era: FERROU?
Fase 6 – PADEIROS.COM
Então os engomadinhos, agora no comando, se lembraram que quem faz pão é o padeiro, quem vende livro é o livreiro, quem escreve o jornal é o jornalista.
Olharam para suas empresas e perceberam que lá só tinha barbudinhos, marketeiros e contadores.com. Mas o patrão era um banqueiro, nem um pouco .com, portanto eles eram todos bancários.
E a lógica do banco é diferente da lógica da livraria, do jornal e da padaria.
O norte agora passou a ser: PROFISSIONALIZAR.
Fase 6 – SEM COM
Mas o que queremos? Jornalistas, Livreiros, Padeiros.com?
Será que existem PADEIROS.COM?
Não existem, assim como não existem barbudinhos.com, engomadinhos.com, investidores.com, marketeiros.com, consumidores.com, publicitários.com.
Existem JORNALISTAS, LIVREIROS E PADEIROS.
Existem PUBLICITÁRIOS E PONTO.
@tasvolverhalen voor mij nieuw, gaat over een internet refugee camp