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Internet? Old fashion.

O ambiente era estranho. Cheiro de incenso no ar, mantras ecoando aqui e ali. O público então, nem se fala. Hippies carecas, fósseis de Woodstock, intelectuais ufólogos, mantos laranjas. Uma fauna. O palestrante era um beato com olhar de águia. Um monge tibetano, do entourage do Dalai Lama. Um gaulês, filho de um dos mais eminentes intelectuais de esquerda. Depois de muitas odes à compaixão, um incauto ouvinte levanta a mão e pergunta: “o que o senhor acha da Internet?”. O mestre respira profundamente, sorri maliciosamente e responde: “Internet? Ah, isso é old fashion. Email? Old fasion. Nós, no mosteiro, navegamos nas mandalas e fazemos chats telepáticos!” Risadas na sala, mas eu não achei a menor graça. Fiquei é perplexo. O que diabo aquele pregador medieval estava querendo dizer. Pus me então a meditar, do meu jeito.

Mas afinal de contas, que diabo é a Internet? Muitas pestanas queimadas depois, minha conclusão ficou quase tão arcana quanto a piada do monge: Internet não existe. Internet é.

Não existe porque não faz mais o menor sentido dizer “eu faço Internet” ou ainda “navego na Internet”, “compro na Internet”, “amo na Internet” e por aí vai. Internet não é uma atividade, não é um ambiente, nem um local, muito menos um motel. Internet é um conceito. Uma idéia.

E mais. Quando a Internet (com maiúscula) virar internet (com minúscula) e ela deixar de existir exclusivamente neste device inapropriado, complicado e caro chamado computador, quando ela estiver presente no meu celular, na minha máquina de lavar, na torradeira e na descarga da minha privada, para quê falar de Internet? Alguém diz “navego na eletricidade” quando passeia por um shopping center cheio de neons e luzes químicas? Não faz o menor sentido, não é mesmo? O mesmo para a Internet.

O que deve-se reter desta…vejamos….coisa?….

Primeiro “Net” que, como todos sabem, significa “rede”. Uma rede não tem centro. Não há órgão emissor nem receptor. Todos os pontos são igualmente e ao mesmo tempo ambos. Todo ponto, a saber, você, recebe e envia. Envia e recebe. Recebe, processa e envia. Isso para Net.

Segundo “Inter”. Inter de intergalactico. Inter de interação. Todos os pontos se relacionam com todos os pontos. Assim, e complementando o conceito acima, todos os pontos recebem, processam e enviam para todos os pontos.

Isto é Internet. Tudo isso e só isso. Quem for capaz de entender, sacou tudo. Se você quer vender, é só isso que você deve saber sobre essa tal de Internet. O resto, é vender, como você sempre fez. Chamando o público, atendendo, fidelizando. A diferença é saber que seu público é receptor, processador e emissor. Se ele vem à sua loja, ele quer ser atendido mas quer também participar. Mais. Seu público vem, participa e, num passe de mágica ele pode ser tornar seu consultor, seu vendedor, seu sócio. Ou seu inferno astral, sua pedra no sapato, seu concorrente.

Internet não existe portanto. Internet é. Ela está em tudo e em todos. Ela é a nova ordem mundial. A nova revolução conceitual do capitalismo. Não precisamos reinventar a roda. Só saber que agora, o consumidor, ser passivo, virou ativo. Que o consumidor, seu cliente, virou seu sócio. Que o consumidor, seu amigo, virou seu inimigo.

Esta é a grande lição da Internet. E que os puristas me perdoem mas não pronuncie mais seu nome em vão. Onipresente e onisciente, ela significa uma mudança visceral não apenas na economia mas no comportamento das pessoas.

Bingo! Era isso que o descabelado abóbora estava falando. Falar de Internet é old fashion. New fashion não é entender o que a Internet vai fazer com seu negócio, mas o que o new consumer está fazendo com ele, graças a ela.

Quando você parar de pensar que a Internet mudou algo e começar a sacar que as pessoas é que mudaram, você estará no Nirvana.

Namorodromos existem.

Você está sozinho naquele senta levanta, rangendo os dentes, começando mil coisas ao mesmo tempo, arrumando as gavetas, os livros, correndo atrás do próprio rabo ou simplesmente comendo porque não consegue dormir, nem assistir TV, nem subir pelas paredes, nem se enfiar na privada. E o pior de tudo, você pode estar rodeado de gente e ainda assim se sente só, desamparado e carente. Um aperto no coração.

Os desalmados, nessas horas, saem por aí atrás de aventuras, de Vladivostok a Pindamongaba. Querem ver o mundo e da única maneira que realmente vale a pena, com pessoas. Mas como é difícil conhecer pessoas. Como é difícil encontrar pessoas. Como é difícil.

Você chega em algum lugar e fica ali observando. Aquela pessoa quem sabe? Ou aquela outra? Tipo mercadores em feira de gado. Belos dentes, belo porte, muita ou pouca gordura, velho ou jovem demais. E quando ela parece interessante ou não repulsiva demais e você arruma coragem suficiente para abordá-la, ainda lhe resta o mais difícil, falar amenidades, pousando de bacana ou intelectual, fazendo toda aquela mise en scène babaca. Com um pouco de sorte, o indivíduo em questão, ou melhor, o personagem e sua máscara, topa um algo mais. Mas o “algo mais” é só “algo” mesmo. E “algo” é pouco para quem está com o coração apertado.

Como é difícil não? A ditadura da máscara, manja? As pessoas se relacionam sempre e primeiro com as máscaras das outras. E quando a fantasia cai, geralmente é decepcionante e tarde demais.

Que tal imaginarmos um ambiente em que não há máscaras ou melhor, onde as máscaras não são fingimento? Onde estar de máscara não faz a menor diferença na relação?

Que tal um lugar em que exista um certo pudor ou melhor, em que não haja censura? Onde ser pudico ou escancarado não muda nada?

Que tal um canal em que as pessoas se relacionam não pela aparência mas pela dinâmica da linguagem verbal? Um meio em que as pessoas se falam sem se ver, sem se cheirar, sem se tocar?

E que tal pensar que isto talvez exista e que lá, todo mundo entra sem cerimonia, sem atestados de antecedentes, sem carro do ano. Um no men´s land que a ninguém pertence.

Lá, é assim: você começa a falar com pessoas, trocar convicções ou fantasias, sem hierarquia. Você entra sem protocolo e cai fora sem constrangimento. Lá, você subverte e se subverte. Não tem esse negócio de timidez nem pudor. Daí, você conhece as pessoas pela ordem inversa. Primeiro o conteúdo, depois a forma. E tudo ali, na hora, bateu voltou. Sem pensar demais, sem armar o jogo. Ainda que no começo existam máscaras mas rapidinho elas ficam sem graça, óbvias demais, falsas demais.

Pois eu vos digo: este paraíso das noites de angústia insone existe e se chama Internet. Vem namorar na Web você também. É bom demais.

Fernand Alphen

Box de Dicas:

www.netmeeting.com (vídeo conferência)
Bom para começar porque é de graça. Mas é meio fraquinho.

www.icuii.com (vídeo conferência)
O melhor de todos. Disparado. Não é tão caro assim mas é imbatível.

www.mirabilis.com (comunicador instantâneo)
Básico. Para começar e manter uma relação, esse software grátis é simplesmente indispensável.

Salas de bate papo.
Existem centenas, milhares. Todos os portais têm. É um bom começo para aquela azaração inicial. Tipo dar tiro pra tudo quanto é lado.