A bolha louca.

Outro dia me perguntaram qual teria sido o mais importante acontecimento do ano na Internet. Ainda que eu achasse que esse assunto de Internet pudesse ser tratado de forma segregada do restante da economia, eu não consegui propriamente definir o acontecimento mais relevante do ano. Ao invés de dar tratos às meninges para encontrar este turning point do ano, comecei a meditar porque será que é tão difícil pronunciar-se sobre isso?

A resposta que me parece mais plausível para este questionamento é essa absoluta imprevisibilidade do meio.

Pensem comigo.

Primeiro essa coisa da Internet do Pentágono para soit disant criar um sistema de defesa descentralizado contra uma esquizofrênica nóia anti-soviética. Depois vieram as universidades visando o sonho positivista de uma comunidade científica unida e trabalhando pelo bem comum dos povos.

Então apareceram uns neguinhos dizendo que essa iria ser a mídia do futuro. Daí, surgiram jornais online. Gutemberg revisitado. Falaram em publicidade revolucionaria, em lojas virtuais, comunidades de gatos persas e de G.I. Joe, videoconferência, B2B, B2C, B2XYZ, E-procurement e o raio que o parta, pontos com, pontos sem, uma zona.

A cada dia, uma novidade, uma revolução. No dia seguinte, a invenção da véspera era ultrapassada, caída. A cada dia, a salvação, no dia seguinte, a danação. Uma gangorra de expectativas e perspectivas.

Um exemplo claro e ilustrativo deste efeito foi a chamada bolha de valorização das ações de empresa de tecnologia na Nasdaq. Pois estas companhias, ilustres desconhecidas, tiveram seus papeis propulsados para uma estratosfera especulativa nunca vista. Nerds rapados viraram bilionários em um piscar de olhos.

Para ser esquemático, uma empresa de tecnologia costuma ser valorada em 8 vezes seu faturamento anual. Mas este valor representava em alguns casos um centésimo do valor total das ações negociadas. Um despropósito mas um fato. Isso durou um tempo. Ninguém entendeu nada no início e em seguida, todos passaram a achar isso absolutamente normal.

O discurso salvação era “empresas de tijolo devem investir urgentemente neste novo meio senão bau bau”. E todo mundo acreditou.

Daí veio um soluço não se sabe de onde e patapum, a Nasdaq despenca, despenca, despenca. Empresas tiveram quedas de até 3000%! E os profetas de plantão começaram a dizer “sabíamos, isso não podia durar”.

O discurso danação decorrente era “empresas que não dão lucro, não podem sobreviver”. Grande novidade.

Essas mesmas empresas que valiam bilhões em papéis valem hoje algumas patacas. Em alguns casos, valem um centésimo do valor de seus ativos. Um despropósito mas um fato. Quanto tempo isso ainda vai durar? Ninguém está entendendo nada mas daqui a pouco todo mundo isso vai achar isso normal pacas.

E amanhã, o mundo gira e a febre recomeça. Depois da febre a ressaca. E depois da ressaca, a febre novamente.

Assim, se me perguntarem hoje qual foi o fato mais importante do ano neste setor, talvez eu saiba responder. O fato mais importante é a ausência de fatos importantes. Na Internet é assim. Não tem fatos. Só soluços.

Prometeram-nos grandes revoluções. Mas não existem revoluções. Só reinvenções. A Internet é mais uma reinvenção. Louvada seja.

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