Não sou filósofo, nem sociólogo nem ologo algum. Sou apenas un publicitário com tudo que a profissão carrega de superficialidade e ansiedade. Tampouco tenho os embasamentos teóricos para sustentar minhas idéias. Mas uma das poucas virtudes da profissão que exerço é a da observação obsessiva. Faço portanto dessa qualidade um campo de experimentação pseudo científica. E vou ousar mais uma vez.
Existe um tema que me fascina esquizofrênicamente. Falo do virtual e do real. E para desenvolver este raciocínio, vamos observar juntos o relacionamento humano, na sua leitura mais atávica: sexo e amor.
Pois toda relação entre duas pessoas é sempre carregada de duas vertentes complementares: a mecânica e a afetiva.
Sexo ex machina.
Por mecânico entendo o sexo, por exemplo. A energia desprendida de uma relação sexual me parece ser a resposta a um pulso mecânico do corpo. Mais ou menos como uma pereba que coça. Dá aquela vontade de coçar. Coço e só paro quando a pereba sangra, porque para de coçar. Dá prazer e esse prazer é decorrente dessa liberação de energia. Armazenagem / liberação de energia. Nada mais mecânico.
A utopia do amor.
Por afetivo, diferentemente, entendo essa coisa que não se exprime. Amar é se dar sem se perder. Falo daquela coisa de querer se fundir à pessoa amada sem no entanto deixar de ser outra pessoa. Amar é o sacrifício da individualidade, do ego. Esse afetivo é isso. A entrega sem deixar de ser.
A ilusão do real.
Vamos pensar agora nas noções de real virtual. Virtual não é o contrário de real. Virtual é a busca do real através de um meio, uma linguagem. O virtual é portanto uma representação do real. Por melhor que ela seja, não passa de uma representação, uma encenação, um pastiche. No entanto, nós somos aprisionados no virtual. Vivemos e morremos nessa ilusão do real. O orgasmo é a antecâmara do êxtase.
Sexo virtual é um pleonasmo. Amar é uma figura de retórica.
Assim como não é possível cotejar com o real a não ser através do virtual, nossos comportamentos mecânicos são as passarelas que nos levam aos laços afetivos. O corpo como armazenagem e liberação de energia é um meio, não um fim. Mas quanto mais e melhor utilizarmos o meio, talvez mais perto estejamos do fim, mesmo sabendo que ele é inalcançavel. Sexo é virtual. Amor é real.