Reestruturações parecem aquela brincadeira dos dominós. Com a mesma falta de pudor com que contrataram seus efetivos de mídia on-line, as agências de propaganda andam revisitando seu entusiasmo oportunista do ano passado, quando montaram ou anabolizaram seus departamentos interativos. O resultado atual é a mesma falta de planejamento e de visão de médio prazo, a saber, “demite a molecada, não precisamos mais deles”.
Não quero fazer nenhum julgamento ético, embora o assunto merecesse. Ética é uma questão de valores e de caráter. Valores e caráter, por sua vez, nesse mercado, bem, deixa pra lá.
Mas o que eu gostaria de analisar é mesmo a falta de inteligência dessas atitudes. Tanto no que diz respeito ao comichão contratatório quanto ao facão demissionário.
Pois vejamos.
Fase 1: Comichão contratatório.
No ano passado, um maremoto de dinheiro surgiu do nada. Clientes, idem. Algumas agências ficaram indóceis com essa dinheirama fácil, sedentas e ávidas por resultados imediatos. Montaram estruturas do nada, também. Contrataram do nada. A torto e a direito. Pra lá e pra cá. A qualquer preço. O que interessava era montar, o mais rápido possível, um exército de mercenários para sair matando sem dó nem piedade. Não sei se tiveram sua parte do butim ou não. Pouco me importa.
No entanto, se tentássemos olhar para a estrutura do negócio, a filosofia de trabalho, o discurso e a prática conceituais, não se via nada, a não ser um rosário de modelos chupados, inglesices e palavreado para despistar.
Fase 2: Facão demissionário.
Então, veio a ressaca. Os exércitos começaram a sobrar na armadura. O campo ficou mirrado. Poucas moças para violentar. Os armazéns, vazios.
Daí, o fácil, o óbvio: “Manda esses desinfelizes para casa. Tem muito soldado ocioso aqui, manda eles de volta”. Fácil, porque não dizer?, lógico.
Lógico porque, quando o plano é a conquista a qualquer custo, a retirada estratégica é o sacrifício, o holocausto, a solução final.
Pois era tudo muito previsível. Quando paramos para pensar, ora, fica fácil saber quem é sério e enxerga um palmo além do nariz.
E além do nariz, existe trabalho, existe negócio, existe dinheiro. Além do nariz existe, também, gente de carne e osso, bom senso e ética.