A mídia de massa e o jovem.

Sabe aquele discurso pseudo engajado que credita a favor de mídia de massa uma manipulação opressora da sociedade, um poder nefasto a serviço de uma elite com interesses espoliantes e uma influência lobotomizante nos jovens?

Sempre desconfiei um pouco desse raciocínio. Primeiro porque pertenço 200% à geração TV e não me considero nem mais nem menos manipulado, oprimido, espoliado ou lobotomizado. Segundo porque qualquer raciocínio simplista me incomoda por definição.

Quem de perto já se envolveu com a mídia de massa, seja do lado de quem produz conteúdo editorial, seja do lado do conteúdo publicitário, sabe que esse raciocínio além de ingênuo é absolutamente falacioso.

Basta analisar a gênese verdadeira da histérica briga pela audiência e seu corolário, o nível cada vez mais “minimo denominador comum” para não dizer “baixo” dos conteúdos. Quem vê nisso uma lógica de opressão disfarçada vive num gibi do tio patinhas e não no século XXI.

A equação é cristalina, querem ver?

A mídia produz conteúdo. Esta produção é financiada pelos anunciantes que na carona do interesse dos consumidores por esses conteúdos, comunicam seus produtos e marcas com um compromisso ético de confundi-los o mínimo possível. É uma grande invenção esse negócio e bom para todos.

Não existe invenção que não traga na sua gênese seu complemento destruidor. Inventaram a estrada de ferro. Com ela, o acidente de trens. Inventaram o carro e com ele o trânsito. Inventaram as balas de goma e com ele os dentistas. Solução e dis-solução são primas xipófagas.

Pois bem vejamos. Para aumentar e sempre aumentar a audiência só existe uma fórmula, a saber, perseguir um conteúdo vulgar que atinja o interesse “mínimo denominador comum” do público. Buscar audiência na mídia de massa é uma espiral com data marcada para o acidente fatal: o dia em que estivermos tangenciando a audiência “máxima”. Parece que estamos bem perto desse momento.

Para alcançar cada vez mais pessoas, somos obrigados a dar tratos a bola para criar um conteúdo “novo”, “original” e, terrível sina, “universal”.

Mas num determinado ponto dessa fuga para o acidente fatal, as pessoas começam a desistir do trem, andar de bicicleta e comer menos doce. Num determinado momento, começamos a evitar a mídia de massa. Este momento é exatamente aquele ponto de inflexão que precede e provoca o acidente ao mesmo tempo. Quando o conteúdo de tão mínimo, de tão comum, de tão vulgar, não mais nos interessa. Daí começa um vazamento aqui, os formadores de opinião, um vazamento ali, a elite, um vazamento acolá, o jovem. E pronto.

Isto posto, vamos falar um pouco da Web que, apesar da dor de barriga, continua cada vez maior, mais diversificada e criativa. Pois eu quero falar precisamente dessa dor de barriga. Se acessarmos qualquer um dos grandes concentradores de audiência da Internet com olhar crítico, damos de cara com ela. Uma promiscuidade porca de conteúdos. Isso para não falar do assalto indecente que mistura o mais nojento dos varejos com um sensacionalismo oportunista. Uma página inicial mínima, comum e vulgar. Opa, já vi esse filme.

Mas não é lógico isso? Essa Internet dos portais é uma Internet morta. Uma Internet movida aos dólares da especulação financeira. Uma Internet que se justificava através dos únicos argumentos que o dinheiro entendia: audiência, audiência, audiência. Uma Internet mídia de massa. Está escrito na primeira página dos maiores portais do mundo: a Internet mínimo denominador comum é um fracasso. Está lá, escrito na primeira página dos maiores portais do mundo: nosso modelo morreu.

Os precipitados dirão: “claro, a Internet é uma mídia segmentada”. Alto lá. Essa Internet segmentada veio antes. A Internet dos criadores de gatos persas é igualmente um modelo morto.

Mas qual será o modelo então? Não sei. Não sei. Mas tenho uma terrível intuição. A intuição de que talvez simplesmente não haja modelo. E se não há modelo, não há solução. E se não há solução não há dis-solução. Faz sentido?

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