Estou a cada dia mais convencido que os principais responsáveis pela azedume do mercado são esse monte de consultores fardados que operam nas sombras, lendo relatórios, inventando palavrões e rindo à toa com as bandeiradas extorsivas de seus taximetros. E quando falo de consultores, é por falta de nomenclatura mais adequada, porque enfio no mesmo saco toda sorte de executivos palpiteiros que frequentam assiduamente os simpósios ranhetas dos palestreiros profissionais e babam ouvo para regrinhas de auto ajuda empresarial.
Eles são mesmo maquiavélicos, cinzentos, volúveis e carreiristas. Eles disseram um dia que a Internet ia ser a nova fronteira econômica, depois disseram que não era bem assim. Um dia falaram que a saída era ser o primeiro ou conquistar audiência. Falaram em B2B, B2C, CRM e tiraram fórmulas idiotas dos baús. Meses depois, jurariam de pés juntos o contrário. Só que na hora que você vai procurá-los para tirar satisfação, eles voltaram, soberbos, para seus bunkers.
Acreditaram demais nessa turma e ainda acreditam.
Pois eu acho que eles são todos dispensáveis. Eu queria mesmo era que ouvissemos um pouco os antropólogos, sociólogos, filósofos, historiadores, técnicos, engenheiros, programadores, artistas, escritores, jornalistas, publicitários, consumidores.
Não sei o que está acontecendo mas parece que alguns desses agentes infiltrados andaram de novo prescrevendo receitas estranhas por aí. Agora estão falando que conteúdo na Web tem que ser fechado, portanto pago.
Meu Deus, não entenderam nada.
Primeiro porque essa é uma atitude arrogante e presunçosa já que parte do pressuposto de que as pessoas precisam desses tais conteúdos para sobreviver.
Segundo porque já não bastam as barreiras que já existem para as pessoas terem acesso a esses conteúdos, ainda querem inventar mais uma. Além da necessidade de ter um computador, um telefone e dinheiro para pagar um provedor, posto que isso já elimina muita gente, ainda precisamos escolher web afora o que deveremos pagar para consumir. Pois para mim, não me interessa a mínima uma Internet classe A/B. Ou essa coisa é popular, portanto barata ou não serve para nada.
Terceiro porque o problema na Web não é a falta de conteúdo é o seu excesso. Informação tem de sobra e cada vez mais. Então porque diabos é que as pessoas vão querer pagar por algo que abunda?
Quarto porque a Internet é por definição um meio de transmissão democrático e pluralista de informação. Mais, a Internet é anarquicamente rebelde. O fluxo de informação que circula em seus veios infinitos é incontrolável. Ainda que alguém quisesse vender informação e encontrasse otários que pagassem por ela, com certeza essa mesma informação estaria sendo instantaneamente copiada e difundida com um poder de propagação muito maior.
Quinto porque fechar um conteúdo é sinônimo de pirataria. Quanto mais a informação se fecha, mais o direito de autor vai pras cucuias. Será que não entenderam isso ainda?
Sexto porque cobrar pela informação é dar um tiro definitivo na receita publicitária. É abdicar de todos os anunciantes que querem falar com as massas. E isso fica dramático nesse atual estágio dos meios de comunicação presentes numa Internet que fala ainda, no Brasil, para 10 milhões de gatos pingados.
Existe mais uma infinidade de argumentos. Mas algum consultor deve ter dito que essa era a saída viabilizadora do negócio. Só se for do negócio dele.
Mas raios, primeiro as coisas primeiras. Um veículo de comunicação é primeiro um veículo de comunicação. Depois ele é uma empresa que deve ser rentável e gerar lucro. Não é o contrário. Parece tão simples, mas esqueceram, mais uma vez. Mais uma vez.
Esqueceram que uma padaria fabrica pão, não dinheiro.