Buenos Aires é aqui na esquina. E, às vezes, menos demorado e caro do que passar um final de semana divertido em São Paulo.
Faz assim: descobre aí um pacote baratinho e se manda pra lá. É muito legal.
A cidade é linda, cosmopolita e alegre como poucas.
Cheguei bem tarde, cansadão. Fui direto para o hotel embora as ruas estivessem cheias de gente saindo pra balada. Mas administrei minha ansiedade.
Hotéis, em BA, tem muitos. Mas o top é mesmo o Alvear, na Recoletta. É, sem dúvida, um dos melhores hotéis do mundo. Põe o Copa no chinelo, fácil. A decoração é barroca, no limite do cafona. E daí? Se você não é assim tão “fashion victim” e curte conforto de verdade, serviço de verdade, rosas de verdade no quarto, lençóis de algodão egípcio de verdade, monogramas bordados de verdade no ropão e pessoas sorrindo de verdade, te paparicando de verdade, então tenta o Alvear. Esse negócio de hotel “Casa Cor” está ficando chato mesmo: quartos apertadinhos, bugigangas engraçadas mas inúteis e serviço enjoado de modernete blasé. O Alvear é mais chique e muito, mas muito mais informal.
No dia seguinte, acordei meio tarde e fui andar, simplesmente flanar. Em Buenos Aires, andar dá pé. São Paulo tem seus buracos, cocôs de cachorro e poluição visual. Buenos Aires tem calçadas, praças e jardins, gente educada. Fui lá no Puerto Madero. Não tem tanta graça assim, mas é sempre bacana ver um bairro leproso regenerado. Tem uns restaurantes, boas carnes e gente sorrindo. Vai lá sem compromisso de hora. Senta no terraço, coma legal e beba um Catena Angélica.
Depois você pode voltar a pé, passando pelo comércio. Já se foi o tempo em que comprar em Buenos Aires fazia muita diferença. Hoje em dia não tem nada demais. Com exceção das livrarias, é claro, que são imperdíveis, enormes, sortidas e baratas. Dizem que Buenos Aires sozinha tem três vezes mais livrarias do que o Brasil inteiro. Deve ser mesmo verdade, porque lá o povo lê até esperando seu Big Mac no Mac Donalds (tão deprê quanto em qualquer cidade do primeiro mundo).
Mas o que pega de verdade em BA é a noite.
20 h – Balé no Colón. Acreditem: aquele templo rosa do kitsch lírico é imperdível. Qualquer coisa vale a pena nem que seja para olhar o povo. O que são aquelas velhas senhoras que perderam seu frescor mas nenhuma classe, os aristocratas portenhos de veludo roto, as criancinhas rosadinhas de sapatinho de verniz?
23 h – Jantar no La Bourgogne. É um restaurante francês “comme il faut”. O décor é despretencioso, mas bacana (como tudo em BA, embora a gente costume achar o contrário), com exceção da luz que é péssima. Mas pouco importa. O cardápio é divino. Nenhuma invencionice francesa con-fusion de etnias. Comida de verdade, daquela que deixa gosto bom na boca a noite inteira e não pesa na esteira nem no bolso. Isso sem falar na carta de vinhos. Difícil encontrar uma tão variada até mesmo na França. Peça um Catena Zapata. Aliás, dois. O sommelier vai sorrir e você também. A noite inteira. Não deixe de comer queijos. São de lá mesmo e ótimos. E não esqueça, não esqueça, a farandole de sobremesas: uma farandole de sabores.
01 h – San Telmo até o sol raiar. Primeiro o Bar Sur. Velho, velho, velho, muito velho. É um absurdo o que os músicos são velhos. Peça um conhaque e fique ali, curtindo aquele “preservation hall” do Tango. Se você ficar deprimido, não se preocupe. Tango é pra isso mesmo, mas faz um bem!
Depois vá andando ao sabor das suas pernas e do salto alto da sua companhia. Você se sente seguro o tempo inteiro e dá até vontade de beber um trago com os largados nas calçadas. Você vai ver o que é uma noite autenticamente eclética. Tem pub inglês com som inglês, puffs rasgados e gente bebendo até as tampas. Tem bar-bordel mexicano com som de mariachi e macarena na pista. Tem clube normal, como os daqui, de Londres, de Paris ou Nova York. Agora, só em Buenos Aires, só em Buenos Aires mesmo, você vai entrar em um clube de dança de rockabilly, sentar numa mesinha no canto e ver aquele monte de índio andino dançando rock de verdade. Um show. Um delírio. Sapatinho bicolor, minissaia quadriculada, gumex lambido na testa. Se você tiver a manha, se jogue na pista, mas vai passar vergonha porque eles dançam muito.
Foram dois dias divertidos, arejados. E só de escrever este texto, deu vontade de voltar. Voltar pra Buenos Aires. Nem que seja para tomar mais Catena Zapata e mais café no Cipriani. Nem que seja para dançar um tango mambembe com aquela velhinha decrépita na feirinha de San Telmo.
Buenos Aires é assim. Uma lufada de ar fresco. Vai lá.
Ah, Buenos Aires. Tão próxima e tão diferente. Em quase nada lembra São Paulo, e mesmo sem conhecer a Europa, B.A me remete para lá. Como voce disse, os jardins, as pessoas educadas e as ruas quase limpas talvez sejam os responsaveis pela sensação européia.
Ao contrário do que você disse, eu aprovei o lugar para fazer compras, principalemente roupas. Talvez porque eu tenha pego as liquidações do fim do inverno. Tudo muito barato.
Aos que leram o post e se encantaram, eu confirmo: É tudo verdade.
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