Fantasma: por que te quiero?

Esse assunto é chato e quase tudo foi falado a respeito. Não há muito a acrescentar. Alguns acham o fenômeno escandaloso, outros se esquivam maliciosamente de comentar o fato. Ambas as atitudes, no entanto, tangenciam pontos de vista hipocritamente moralistas. Prefiro, portanto, uma avaliação mais racional.

O fato é que fantasmas são muitas vezes peças surpreendentes, originais, curiosas e, obviamente, criativas. O fato é que os presumidos fantasmas muitas vezes salvam os festivais. Deus os preserve.

Se partirmos do pressuposto que os profissionais escolhidos para julgar os trabalhos inscritos são aptos a selecionar os melhores por critérios publicitários e de que muitas vezes peças fantasmas são laureadas, existe algo de estranho que transcende esse moralismo de opereta, alardeado com pompa e histeria pela imprensa especializada.

Nunca li críticas ou comentários sobre a competência do júri. Tampouco se fala sobre os critérios de avaliação ou sobre as regras dos festivais. Somos unânimes em concordar com tudo.

Então, por que diabos os presumidos fantasmas incomodam tanto?

Existem duas hipóteses racionais.

A primeira é óbvia: a inveja. Inveja da idéia ser do outro, inveja de não ter pensado nisso antes, inveja de não ser tão criativo e original. A inveja é um sentimento que inflama, cria polêmica, fomenta debates passionais.

A segunda, no entanto, é mais sutil. Se a peça é fantasma é porque ela jamais seria aprovada ou veiculada. Essa é a mais interessante sem dúvida, porque ela repousa sobre a coragem. Coragem de ser original, coragem de quebrar paradigmas, coragem de arriscar-se.

Não há dúvida de que quanto mais original e surpreendente for a comunicação, maior seu potencial de gerar aquilo para o que ela existe: vender. Claro que existem riscos. Ainda bem que alguns ainda têm peito para enfrentá-los, aprovar a originalidade e colher seus frutos.

Mas em tempos de festivais e seus deliciosos fantasmas, ficamos com a estranha sensação de que a publicidade está cada vez mais envergonhada e acanhada.

Não vou comentar os trabalhos premiados este ano em Cannes. Mais uma vez, alimentam em todos, publicitários e profissionais de marketing, uma sensação desagradável de inveja e covardia.

Aliás, vou falar sim, e do presumido fantasma da DPZ. A dupla junior inscreveu a peça sem conhecimento da agência? Será que também ganhou Grand Prix no Colunistas do Rio sem a agência saber? O diretor de criação que subiu ao palco do Palais também era um fantasma? Quem acreditou nessa palhaçada, também acreditou que a peça foi autorizada pelo cliente, que não era um fantasma e que o trabalho era brilhante.

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