Nunca tantos falaram tanto de tão pouco

Se tem uma coisa difícil de entender é porque existem tantos veículos especializados para falar do mesmo assunto, dos mesmos fatos e para as mesmas pessoas. Adivinharam, estou falando do nosso mercado de comunicação. Ainda que possamos admitir que existam linhas editoriais distintas, abrangências e estratégias de conteúdo diferentes, quanta coisa pra ler na Segunda feira de manhã! Isso sem falar dos diários on-line.

Vamos às hipóteses possíveis para explicar o fenômeno.

O mercado publicitário é realmente recheado de assuntos, temas e debates.

A publicidade é um tema central das preocupações do cotidiano das pessoas.

Estamos falando de uma indústria que movimenta tanto dinheiro que representa uma prioridade econômica para o país.

O setor de comunicação é um dos que mais empregos gera no Brasil.

O dinamismo da profissão é estonteante. Os paradigmas mudam sem parar numa eterna e infinita reinvenção.

Publicidade é uma questão de sociedade, como a violência, a educação e a saúde.

Propaganda é um tema polêmico, como religião, política e futebol.

Sei não.

Assuntos, não tem tantos assim e os temas são irritantemente repetitivos. Quanto aos debates, só existem quando duas pessoas tem idéias opostas. Mas, tô pra ver gente mais escorregadia que publicitário.

Que mais? Publicidade existe para não ser tema central de nada, pelo contrário: quanto maior sua capacidade de se infiltrar sorrateiramente na mente e nos comportamentos dos consumidores, melhor.

Sobre a importância econômica do setor, ela é tão risível que sequer merece comentário. O mesmo vale para a geração de empregos.

Dinamismo é piada: basta ver o Zezé de Camargo e Luciano vendendo guarda-roupa-de-oito-portas-com-cama-e-criado-mudo-grátis para dar gargalhada ou chorar de raiva. Se bem que, isso sim talvez seja um problema societário “a nível de chamar o povo de débil mental”.

Finalmente o tema polêmico. Vejamos. Não acho nenhum publicado nos últimos tempos a não ser a patética campanha nacional dos veículos nacionais para falar que a propaganda nacional é bandida. Isso sim é um tema de impacto. Impacto internacional. Ano que vem, em Cannes, vai ter jurado Russo olhando com malícia o filme do guarda-roupa-de-oito-portas-com-cama-e-criado-mudo-grátis e afirmar peremptoriamente: “Brasil! Fantasmatovski! Fantasmatovski!”

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