Mãos sujas? Não, emporcalhadas.

Tem uma peça de Sartre chamada “Les Mains Sales”. Se você não tiver saco de lê-la, basta conhecer o título e o assunto. Título: as mãos sujas. Assunto: política.

Falemos um pouco da sujeira. Não, não é essa em que você e o Sartre estão pensando. Dessa prefiro não falar porque, insidiosa, ela me corrói a alma.

Falo da outra, muito mais evidente e não menos corrosiva: a propaganda política nas ruas.

Prefeita Marta Suplicy, você não lê o Blue Bus, mas, puxa vida, o que é que está acontecendo? Será que todos enlouqueceram? Será que está todo mundo achando isso normal? Os postes, os viadutos, os muros, viraram cabides de faixa eleitoral. São Paulo é uma festa junina triste nesses meses que precedem a eleição.

É por que moramos na cidade mais feia do país que soltaram os porcos nas ruas? É por que vivemos na cidade com a mais caótica programação visual do Brasil que os espertos resolveram enfeitá-la? É por que trabalhamos na cidade mais bruta que resolveram violentar nosso horizonte? É por que aqui é maior, tem mais candidato, mais eleitores e mais panacas conformados? É por que está todo mundo preocupado com a periferia em estado de guerra? Por que o dólar sobe e a bolsa cai? Por que não gostaram das “viçosas” palmeiras da Faria Lima?

Não sei por quê. Não sei. Mas arrisco umas razões.

Talvez seja porque os fanfarrões não sabem o que dizer, então gritam o nome em cada esquina. O lance é quanto mais GRP melhor.

Talvez seja porque os falastrões ainda acham que brasileiro vota por “share of voice”.

Talvez seja porque eles pensam que quem ganha eleição no país é quem tem maior “share of spending”.
Pois eu tenho duas sugestões. Uma para a prefeita, outra para você.

Prefeita em quem tenho a honra de ter votado, a Senhora não pode colocar um fiscal em cada poste, mas deve saber, por exemplo, que o Tribunal Eleitoral proÍbe a veiculação de propaganda eleitoral na qual não esteja estampado, com clareza, o nome do partido e da coligação partidária. Vamos multar todos os candidatos que omitem o partido ao qual pertencem. Mesmo que isso não resolva nada nessa sujeira toda, pelo menos o eleitor vai perguntar “Ué, por que ele não põe o nome do partido? Será vergonha ou falta dela?”

Quanto a você, caro leitor, faça mais simples. Nós já estamos acostumados a votar em gatuno e gatão. Agora, votar em porco é demais não?

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