Barbie de palanque.

Deve haver algo de errado. Não me refiro ao surrealismo e à chanchada, como sempre impagáveis, de boa parte da propaganda eleitoral gratuita. No dia que resolverem impor alguma censura ao “speaker corner” dos partidecos e anões, vamos sentir falta. Mas falo do aparato publicitário de alta estirpe: da campanha dos grandes partidos (partidos?) políticos.

Todos hão de concordar que na propaganda há forma e conteúdo. Boa propaganda é um bom conteúdo, verdadeiro e convincente com uma forma adequada que suporta e enriquece a intenção. Ou ainda, boa propaganda é uma forma sedutora que mascara ou subentende um conteúdo mercadológico. Não importa, para este raciocínio, creditar maior ou menor importância a uma ou outro, mesmo porque alguns dirão que forma é conteúdo, conteúdo é forma e pronto, piramos e perdemos o foco de uma singela reflexão.

Quando analisamos ou tentamos extrair conteúdos dos discursos políticos da propaganda eleitoral na atual campanha, das duas uma: ou não temos a menor capacidade de discernir ou de reconhecer verdades: faltam-nos informação e conhecimento; ou é tudo absolutamente igual.

Tem um que fala que vai criar X milhões de empregos, o outro X/2 empregos, mais um X/10 empregos. Um diz que irá reduzir o deficit não sei das quantas em 80%, o outro em 40% e outro acaba com ele de vez. E nos fica uma indigestão de propostas e promessas. Verdadeiras? Aproximadas? Falsas? Como é que vou saber?

Ainda no que diz respeito ao conteúdo, um diz que vai colocar bandido na cadeia, crianças nas escolas, doentes em hospitais. O outro diz que que vai criar leitos em hospitais, vagas nas escolas e celas nas cadeias. Adoramos ouvir isso. Nos deliciamos com as promessas que são todas lindas mas idênticas.

Como faço para escolher? Não entendo nada e o que entendo é igual. E agora?

O que me sobra para decidir? A aparência de um, a inflexão de outro, o sorriso, o jingle, o logotipo, as cores, a edição, o roteiro, a finalização, o photoshop, o after effect.

Só me resta a forma. A forma cada vez mais trabalhada, pensada, qualificada. Só me resta a forma. A forma que quiseram dar ao produto.

O produto da propaganda eleitoral, nessa eleição faraônica e fanfarronica, é a própria propaganda. Não há produto, não há candidatos,  só modelos, atores, barbies e falcons.

Analisando inclusive a movimentação das pesquisas eleitorais, depois da entrada do horário político, é fácil verificar que mesmo sem nenhum fato novo, sua simples estréia modificou significativamente o quadro.  Portanto, a fórmula do quanto mais melhor parece funcionar. A do quanto mais vazio o discurso também. A bela gravata, o cabelo alinhado e o cenário caprichado também. Mas o que assusta é pensar que não somos governados por clones mas por pessoas, personalidades que teoricamente nos representam.

A menos que essa idéia do político seja ultrapassada, utópica. A menos que o marketing que está construindo a imagem dos políticos que devemos escolher seja também responsável pelas políticas que serão adotadas, uma vez eleitos. A menos que a gente assuma de vez que tudo não passa de uma grande representação. Não só a propaganda política mas a própria política.

Acho que caí na real agora. Mas doeu.

Voto no Falcon e você?

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