Democracia terminal.

É impossível falar de outra coisa. Somos bombardeados diariamente pela mais tentacular das campanhas políticas dos últimos tempos. Uma campanha no entanto morna, cheia de clichês que disfarçam a mais absoluta falta de vergonha.

Morna porque os discursos políticos são recheados de fatos, planos de ação, citações de feitos, promessas burocraticas. Morna porque meia dúzia é a mesma coisa que 6.

Clichês porque os candidatos destilam exatamente o que o eleitor, incauto e ingênuo, quer ouvir. A lição do líder carismático seguida à risca. Os clichês inflamados mobilizam contingentes acéfalos.

Democracia não significa eleição nem sufrágio universal. Democracia custa caro. E seu preço é inversamente proporcional à consciência política do eleitor. Quanto menor a educação política do cidadão, mais caro ele irá pagar por suas escolhas.

A propaganda eleitoral no Brasil acredita piamente que o brasileiro vota por impulso.

A propaganda política brasileira reza o terço da mentira deslavada, do chute, do populismo.

Os candidatos, absortos por essa máquina diabólica, por esse vício do sistema democrático brasileiro chamado “propaganda eleitoral gratuita”, aposentaram definitivamente seus ideais, isto é, quando os tinham.

Não quero saber quantas prisões o Senhor Candidato vai construir. Nem quanto vai ser o salário mínimo, muito menos o que fazer com a dívida externa, os juros, o dólar, as alíquotas de imposto. Eu sou lá economista, jurista, financista? Quero saber o compromisso do Senhor Candidato com a fratura social, com a distribuição de riqueza, com o fim dos privilégios, dos cartéis, da corrupção. Não é um inventário de promessas numéricas que irá me convencer mas as idéias e a coerência da biografia do homem e do partido ao qual pertence. Estou pedindo muito?

Mas será a propaganda eleitoral gratuita adequada para um debate de idéias, de biografias? Não. Propaganda eleitoral gratuita só serve para um bombardeio massacrante de mentiras.

O eleitor é vítima. Vítima de uma escolha que acontece no susto, no imediatismo, por egoismo. Esses são os verdadeiros valores dos políticos candidatos.

A propaganda eleitoral gratuita não é só um atentado à inteligência do Brasileiro, é um câncer letal na consciência política de todos nós.

0 thoughts on “Democracia terminal.

  1. Maniana, en este mismo sitio, Eduardo Cruz presenta “Los silencios d la democracia”:medios,opinion publica y su relacion c/el poder

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