– Pára de me bolinar.
– Não estou te bolinando.
– Como não? Pára de me bolinar!
– Você está louca?
– Tem alguém me bolinando.
– Como assim te bolinando?
– Bolinando, ué.
– Com as mãos?
– Acho que sim.
– Onde?
– É você. Pára, senão eu grito.
– Já falei que não fui eu.
– Você tem essa mania, quando fica nervoso.
– Mas eu não estou nervoso!
– Sei. Tá bom. Mas, por favor, pára.
– Que coisa, não sou eu.
– Então, quem é?
– Hei, você, pára de bolinar minha mulher.
– Não parou. Ainda estão me bolinando.
– Mas não era ele.
– Então, quem é?
– Sei lá. Está escuro aqui, não dá para ver.
– Vou ficar roxa.
– Põe os pés para cima.
– Já fiz isso, mas continuam me bolinando.
– Espera aí. Vou falar com o cara da frente.
– Tá.
– O senhor está bolinando ela? Não?
– Vamos embora.
– Calma. Ainda continuam a te bolinar.
– Continuam.
– São fortes?
– Mais ou menos.
– É sempre no mesmo lugar?
– É sim.
– Onde?
– Aqui de lado, na bunda.
– Na bunda? Como assim?
– Quer dizer, no quadril.
– Sem parar?
– Não, agora parou.
– Então, tá. Agora sossega.
– Era você, fala a verdade.
– Não era.
– Pronto, começou de novo.
– Meu Deus do Céu, de novo não.
– Fala baixo.
– Então, vamos embora.
– Não, agora eu quero saber quem está me bolinando.
– Não fui eu, já falei.
– Tá, mas quem, então?
– Sei lá, acho que você está é gostando.
– Se estivesse gostando, não reclamava.
– Então, por que você está gemendo?
– Porque está me fazendo cócegas.
– Cócegas? Então, você está gostando.
– Não! Ai!
– Fala baixo!
– Pronto. Parou.
– Ufa! Quieta agora.
– Vou lá fora.
– O que foi agora?
– Nada.
– Como nada?
– Quero sair um instante.
– Por quê? Estão te bolinando de novo?
– Não.
– Então, por que quer sair?
– Porque sim.
– Você é maluca. Então, vai.
– Tá.
…..
– Alô?
– Oi. querida.
– Você me ligou?
– Liguei. Por que não atendeu o telefone?
– Porque eu estava no cinema com meu marido.
– E como soube que eu queria falar com você?
– Porque deixei o telefone no vibrador, dentro da bolsa.
– Ah, tá.