Como sempre.

Como todos os dias da minha vida, saí de casa, pela rua, em direção à padaria tomar café da manhã. Parei o carro na esquina de sempre, na vaga habitual, atropelando os sacos de lixo normais de uma segunda feira como outra qualquer. Caminhei pela calçada que há anos está igualmente esburacada e com ervas se danando nas frestas do cimento. Mas a padaria não estava mais lá. Em seu lugar, uma placa indicava um futuro empreendimento imobiliário. Sacudi os ombros e voltei para o carro. Com fome.

Ao cruzar a avenida, preparei o troco de todos os dias para o cego sorridente. Baixei o vidro num gesto automático esticando a nota. Mas não havia cego algum. Em seu lugar, nada. Nem uma criança, nem um ambulante, nem um trombadinha. Fechei o carro novamente. Economizando migalhas.

Adiante, era aquele sinal demorado, mortalmente irritante. O truque diário era de passar colado no carro da frente, pela faixa da direita para se esconder do guardinha bigodão. Todos os policiais da minha cidade usam bigode mas esse era maior e estranhei quando ele substituiu o anterior. Tomei um susto naquele dia, mas agora sempre me divertia acompanhando os fios que se acinzentavam com o passar do tempo. Ele envelhecia e nunca me pegara passando no vermelho. Mas, naquele dia, não tinha guarda algum. Só um cachorro mijando no poste com o sinal excpecionalmente verde. Passei. Sem pressa.

Ia dar nove horas e infalivelmente aquele insuportável locutor da rádio que há anos ouço todas as manhãs, iria entrar no ar com aquela sua pronuncia empolada. Mas não veio. Segui ouvindo música.

No trabalho, minha vaga estava ocupada, estacionei na rua. O vaso estava entupido, fui mijar no banheiro das mulheres. A garrafa de café estava vazia, lavei o rosto para acordar. Minha cadeira não estava lá, catei um banquinho. O chefe não tinha chegado, li o jornal. Não choveu e fui para a praia.

Não para tudo o que eu estava acostumado.

Voltei para casa. Não tinha trânsito. Nem aquela dor no coração. Como todos os dias da minha vida.

Não, eu não estava mais só.

Você voltou.

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