Outro dia recebi um divertido link com as mais engraçadas caricaturas satirizando, com criativas montagens, o presidente Bush e sua louca cruzada belicista. Me diverti, claro. É sinal que há vida inteligente no mundo e nos Estados Unidos também.
Hoje de manhã, no entanto, recebi outro link. Trata-se de uma série de imagens de Saddan Hussein, colocado como um espécie de mártir inocente desta guerra. Ainda que os autores tenham se esforçado para um certo humor, fiquei um pouco apavorado.
Assusto-me também com as reações pela paz. Não que o motivo seja ilegítimo, ao contrário. No entanto, essas manifestações maniqueístas, como são sempre os enlevos populares, fazem inocentemente coro com a mais inteligente das estratégias propagandistas do regime iraquiano.
Devemos ter enorme cuidado ao tomarmos partido com o que está acontecendo no mundo. Nossa responsabilidade de formadores de opinião é muito grande. Preocupo-me com manifestações de violência da opinião pública contra postos diplomáticos, principalmente quando elas acontecem em países, em tese, amigos dos EUA. O mesmo com declarações passionais de personalidades ou editorialistas. Basta citar um infeliz quadro humorístico do Fantástico, que alimenta um antiamericanismo primário ou ainda a irresponsável comparação de Arnaldo Jabor promovendo Fernandinho Beira-Mar ao título de “Bush de Bangu”.
Não é necessário aqui enumerar os presumidos interesses político-comerciais diretos e indiretos dos americanos no Iraque e tampouco os deslizes esquecidos das nações que se manifestam agora a favor da paz. Não precisamos falar mais uma vez da cruzada fundamentalista do governo Bush e tampouco das centenas de milhares de curdos assassinados pelo regime de Saddam com gazes alemães arremessados com aviões franceses.
O que está em jogo não é mais julgar o regime de Saddam Hussein e tampouco a atitude patentemente ilegal dos EUA. O que está em jogo é o “para que serve?”, para além da barbárie de uma guerra, para além do sanguinário déspota iraquiano, que não hesita em eliminar seus opositores da forma mais abjeta. Podemos duvidar da eficácia da atitude violenta nesse caso, assim como temos dificuldade em acreditar que a guerra do Iraque poderá ser um passo na tentativa de colocar ordem naquela parte do mundo e oferecer uma real solução à questão central do Oriente Médio, que consiste em resolver o conflito Israelo-palestino.
É fácil ser pacifista. No entanto, a verdade dessa história é que, agora, existem apenas duas hipóteses de fim. Os Estados Unidos, depois da guerra, conseguirão avançar no processo de paz do Oriente Médio ou não? É possível que consigam. Vale a pena adiantar também essa hipótese, em vez de torcer simplistamente contra.
A solução americana pode não ter sido a melhor. Quero acreditar, em nome de nossa crença na humanidade, que não, que ela não é a melhor solução. Mas, em nome dessa mesma crença, um regime como o de Saddam Hussein não é tolerável.
Somos todos pela paz e temos o direito de manifestar-nos em sua defesa. No entanto, não devemos correr riscos. O risco de radicalizarmos. Quero crer que esse risco ainda não existe, mas a opção pacifista me soa, neste momento, como um anarquismo de circunstância. Mais inútil que a guerra e mais inútil que a não-guerra.