Aula

Escolha um dia de sol para começar.

Em um caderno, faça alguns rascunhos para não errar. Toque o papel com a ponta do lápis, feche os olhos e, quando a mão ganhar vida, deixe-a evoluir livremente.  Não abra os olhos, nem levante o lápis. Sinta o calor do sol na seu rosto, cheire o ar, perceba as carícias da brisa. Não abra os olhos ainda. Quando sua mão cessar os movimentos, descanse o lápis e afague a folha levemente. Abra os olhos agora. Que tal?

Que bom que você gostou. Também gostei, mas pode ficar melhor.

Agora vire a página do caderno e comece novamente, em outra folha. Dessa vez, não deixe aquele pensamento lhe tirar a concentração. Também não tente adivinhar o que está desenhando. Deixe a mão solta e o espírito à mercê do tempo. Temos todo. Vamos lá. Isso.

E agora, como ficou? Nada mal. Mas você não deve ter pressa. Está vendo no canto da folha? Tem uma hesitação nervosa ali. Você quis parar antes da hora.

Vamos mais uma vez?

Isso, sem censura, sem medo. Pronto. Ficou ótimo agora. Muito bom mesmo.

O próximo passo é olhar para o desenho demoradamente. Acompanhe com os olhos todas as curvas. Parta de um ponto e retorne a ele. Faça isso muitas vezes. Não balance a cabeça e vá fechando os olhos devagar. Isso, sem parar de seguir as linhas. Continue assim com os olhos fechados. Não pare de bailar as linhas na sua cabeça.

Chegou a hora de ensaiar o desenho definitivo. Levante a mão e comece a traçar as linhas no espaço. Com uma mão apenas, como se, na sua frente, houvesse um espaço plano, uma tela esticada, branca. Desenhe as linhas que você já conhece. Quando retornar ao ponto de saída, recomece. Uma, duas, três vezes. Não pare. Continue. Seus gestos estão ficando mais decididos, mais rápidos. Percebeu? Mais uma vez. Mais uma. Agora com a outra mão, ao mesmo tempo, espelhando o desenho original. Isso. As duas. Não se preocupe se as linhas se encontrarem. Abra as mãos, desenhe com todos os dedos. Movimente-os ao mesmo tempo. Vamos lá. Que lindo!

Amplie o desenho agora, abrindo os braços. Grande, é grande a tela imaginária à sua frente. Não tem fim. Continue assim. Pressione agora as mãos para frente, como se as linhas evoluíssem no espaço. Assim mesmo. Desprenda os pés do chão se precisar. Contine crescendo o desenho. Adiante, atrás, para a direita, para a esquerda, para o alto e para baixo. Solte os ombros, a cabeça, a língua. Isso. O corpo todo desenhando. Grande, bem grande é o desenho.

Rodopie. O desenho não pára de crescer. As linhas envolvem você. Saia da sala, se precisar. Não está cabendo. Assim. Continue. No jardim, na rua. Arremesse as linhas em todas as direções, recupere-as, jogue-as novamente. No telhado, nas nuvens. Sem parar. Sem parar. Sem parar.

Pronto. Agora você já sabe dançar.

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