Azul

Por que o céu é azul? Por que o mar é azul? Por que a Terra é azul? Por quê?

Tinha um pintor lá no céu. Antigamente.

Muito mais antigamente, quando ele era jovem, sua palheta exibia mil cores e idéias. Saía de manhã na garupa de um cometa, dando pinceladas por todos os lados, experimentando um arabesco aqui, ali um pingo, adiante uma mandala ou um leão juboso, uma cabra, um obelisco pontudo, um corpo de mulher. Era muito rica a imaginação do pintor. Dizem que ele pintou capelas e teatros de óperas, quando fez alguns bicos na Terra. Mas ele ficou velho e se cansou de tanta variedade. Cansou das cores, das formas e das experiências. Foi assim que, antes de morrer, resolveu pintar o céu inteiro de uma única cor, azul.

Até que ficou bonito, principalmente quando as núvens arrepiam o azul de branco descabelado.

No mar, lá no fundão dos oceanos, tem um enorme espelho.

Mas ninguém pode vê-lo. Nem mesmo os peixes cegos das fossas abissais. Mas, ao amanhecer, um polvo enorme singra a areia das profundezas, esticando um rolo de papel de alumínio por todos os cantos. Quando o sol desperta do fundo do horizonte, sua carícia luminosa reverbera no espelho, que instantaneamente difunde, por todas as moléculas de água dos mares, um pigmento celeste. O artíficie da mágica, o polvo, foi o mais diligente dos apóstulos do pintor do céu.

Vocês já imaginaram quão feio seria o mar se ele fosse vermelho, ou amarelo, ou cinzento como a fumaça de um caminhão?

Um dia, um astronauta teve a idéia de olhar pela janelinha de seu foguete interespacial.

Dizem que ele estava com muita dor de barriga  por causa da feijoada em pó que comera no café da manhã. Para  acalmar os humores intestinais, ele se aproximou da escotilha. Qual não foi sua surpresa, quando viu, um jogador de beisebol, barrigudo, flutuando a poucos metros do vidro! De repente, o esportista chegou bem perto, apoiou os pés na lataria da nave e saiu como uma flecha em direção a uma bola que se aproximava veloz na sua direção. Quando ele estava próximo a ela, jogou-se com os braços abertos. Foi tudo muito rápido. Ele catou a bola, cuspiu nela e arremessou-a para o alto. Ela girou, girou, girou muito. Nisso, o astronauta esqueceu sua dor de barriga e olhou para os controles da nave. Ele descobriu, então, que a bola em questão era a Terra.  Foi assim que ele entendeu que, por causa daquele lançamento espetacular, o azul do mar se misturou com o azul do céu.

Foi a partir de um jogo de beisebol que a Terra passou a ser um planeta azul.

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