A torta

Uma fatia depois da outra. É torta que não acaba mais.

A primeira é de pão-de-ló, simples, sem cor, fofa e doce. Seu gosto é difuso, como uma nata dissovendo-se no
céu-da-boca. A seguinte é fartamente enfeitada, com confeitos divertidos, mais gostosos que a massa. Depois, vem uma de ameixa, roxa como um beliscão. Daí para frente, de fatia em fatia, sucedem-se mil-folhas transbordando de creme, frutas caramelizadas, chocolate, marzipã, fios-de-ovos.

Ainda sei organizar as fatias de passado que me regalaram.

Por vezes, os recheios se embaraçam e eis que emergem, debaixo da língua, a nuvem de pão-de-ló, o trovão de ameixa ou uma chuva colorida de confeitos adoçando os lábios, uma saliva de creme, uma lágrima de chocolate.

Nesses preciosos instantes, a torta do presente irriga-se de prazer.

Que venham outras fatias, para sempre, até meu último suspiro.

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