E no final, era sempre a surpresa, um fato que havíamos esquecido de acompanhar ou simplesmente a narrativa bifurcava para outra realidade, diferente daquela que estávamos construindo.
As histórias são como um bolo enfeitado com cerejas. O bolo pode ser de creme, de marzipã, de doce de leite, mas, na hora do arremate, é sempre a mesma coisa: o costume ou a fantasia. Cerejas, flores ou arabescos confeitados.
Por isso, eu sempre lia primeiro o final e depois o recheio. Ou comia antes a cereja e largava o bolo.
É um truque de estilo. Afinal de contas, para que recheio se o gostoso, o diferente, o gesto genial fica para as últimas linhas? Para que o esforço?
É uma impostura de autor. Não é honesto nem franco contar uma história quando se sabe o final. É um golpe baixo dar água na boa e na hora do fastio, oferecer um delicioso final.
Eu sempre lia o final porque não era justo o que faziam conosco.
Minha avó era mais radical e sempre terminava suas histórias da mesma forma: “Entrou por uma perna de pinto, saiu pela de um pato, seu rei mandou dizer que contasse quatro”.
Eu detestava esse final porque era invariável, coringa e incompreensível. Ela contava aquela velhas histórias, completamente inventadas, sem pé nem cabeça, e eu recitava sozinho o incontornável clímax.
Mas, afinal, por que queremos um final para as histórias? Para que serve uma cereja encastelada num bolo?