Algaroba

Um calor danado, o sol se pondo no horizinte duro, uma sanfona alegre batendo o pé na terra batida, três cabras recolhendo-se. Mais um dia seco deitava-se no sertão.

Algaroba sofria calada. Seus delicados membros eram teimosia que só. A última guerreira carregava em seu verde persistente a derradeira esperança da seca.

A noite silenciosa recolheu os homens para suas taperas caiadas e a árvore ficou só, mastigando a poeira da estrada.

Mais um dia e ela daria os derradeiros sinais de sua resistência. Mais um dia olhando as nuvens estéreis do céu, para ela desistir.

Mas ainda lhe restava uma noite de luta. Algaroba respirou fundo a aridez do vento, esgueirou as raízes no cascalho estorricado, recolheu as folhas em prece ardente.

A noite inteira ela ofereceu-se em sacrifício ao clima.

Quando o dia despontou no fio de terra que separa o sertão do abandono, a árvore levantou uma última vez sua cantiga triste. Algaroba implorou mais uma vez.

Uma lágrima, uma única gota de dor desceu devagar pelo tronco de Algaroba, serpenteando seu caminho até o chão teso.

A terra sedenta aspirou, e algaroba renasceu. Mais uma vez.

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