A Internet não é pras massas

Existem as forças da inércia e as forças forçadas. Existem as forças sanitárias e as forças travestidas. Há ainda as forças reptéis e as forças córticas. E no duelo entre as duas, sempre vencem as primeiras, as forças mais fortes que a vontade.

É assim com essa coisa que, por falta de qualificação causal, menos fenomenológica, chamamos de Internet.

E é precisamente porque é da natureza dos humanos ser incapaz de entender as causas, que tratamos da forma a despeito de buscar suas origens. É exatamente porque somos drogados pelas aparências que deslizamos na superfície. Afinal de contas uma onda não faz uma maré. Um raio não ilumina a noite.

A Internet não é grande coisa mesmo. É apenas uma estrutura. Mas o que essa estrutura revela? Seríamos capazes de entender a intenção ou a força por detrás da mesma?

Então achamos que ao povoar a estrutura de objetos e idéias somos capazes de materializa-la. Achamos que ao rechear a rede de sites, justificando torpemente suas existências através dos mais variados argumentos viscerais ou projetivos, estamos entendendo sua força real.

A Internet não é nada se não entendermos quais são os desejos, as fantasias, os sonhos da sociedade e dos humanos. A Internet é somente um laboratório. Mas podemos aprender com ele sem hipóteses, dogmas ou ideologias?

Pois para mim a Internet não é nada se não entendermos que as pessoas estão aprisionadas sem conforto numa estrutura que as tolhe, numa ordem que as oprime. A Internet não é nada se não enxergarmos que as sociedades estão em colapso, na beira do abismo. A Internet não é nada se não sacarmos que não há mais razões para os agrupamentos, não há mais vontade de massificar-se. A Internet é uma idéia malograda se não admitirmos que o velho está moribundo.

Mas é justamente porque, percebemos, consciente ou inconscientemente, o desmoronamento da sociedade de consumo massificada, pasteurizada, supérflua e idiotizante que a Internet é nossa única bandeira.

Se sentirmos isso, lá dentro de nós, iremos reconstruir o mundo. Caso contrário, iremos reproduzir, ad mortem, fórmulas e modelos caducos.

Quais são os reais sucessos da Internet? Os de verdade, ou seja, não aqueles que dão dinheiro fácil ou difícil, não aqueles que fazem barulho ou criam polêmica, muito menos aqueles gigantescos cemitérios de bits que sobrevivem a custo de malabarismos aritméticos. Estou falando daquelas idéias que fazem as pessoas usarem sem estímulo externo, sem artifícios de posicionamentos bem nascidos, sem promoções, sem promessas falsas ou reais.

O E-mail? O chat? O Blog? A video-conferencia? O Instant Messenger? As páginas pessoais? O marketing incidental? Os spams (sim, claro, os Spams são um sucesso)? Que mais? Sei lá. Não achei nenhum outro verdadeiro sucesso.

A Internet não é uma mídia de massa e tampouco é uma mídia um-para-um. A Internet não é o correio e muito menos o telefone. A Internet não é um shopping center, nem um jornal, nem uma TV, nem um parque de diversões. Se for só isso, não precisamos dela.

A Internet é tão somente uma plataforma de expressão dos humanos. Qualquer iniciativa que pretender, de forma artificial, limita-lo, enquadrá-lo, agrupa-lo e principalmente calá-lo é pequena e efêmera.

0 thoughts on “A Internet não é pras massas

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Connect with Facebook