Para Lígia
Três pessoas vêm em minha direção. E rápido. Elas estão apressadas. Braços e pernas como metrônomos, plantando bananeira.
Elas vêm em minha direção. Uma delas, um homem, me desvenda sorrindo. O aceno diz que não nos conhecemos, mas temos pontos em comum. É verdade, eu também acho. A pessoa do meio está escondida em um capuz de veludo. Pelo andar é uma mulher. Ela olha para o lado, para o meu lado, e o capuz escorrega nos seus cabelos, como uma carícia drapeada. O outro estranho é mais velho. Anda pesadamente. A manga de seu casaco passa raspando em mim. Estremecemos, nos encaramos e, nervosamente, ele segura no cotovelo da sua companheira.
Passaram.
Um homem negro, caminha a passos largos. Enfurnado no boné que lhe cai até a nuca, ele está ouvindo um som, com fones de ouvido. Seu andar é rápido. Uma passada dele vale por duas minhas, talvez três. Sua velocidade é o dobro ou o triplo da minha. Ele me fixa em câmera lenta. Como um bólido, se aproxima. Não dá tempo de decidir para que lado me recolher. Sinto seu fôlego e o pulso do rítmo no meu rosto. Qual é mesmo o nome dessa música?
Ele desvia.
Na rua em frente, muitos táxis passando. Só táxis. O trânsito é pesado. Um deles estaciona adiante. Um vulto agita-se no interior, curva-se sobre o banco dianteiro. Vou chegando em sua direção: vai ficar livre. Vou descansar os pés doloridos. Ainda faltam tantas ruas para atravessar! Não lembro ao certo o endereço para onde vou, mas não faz mal. Não consigo mais caminhar. Vou ajeitando a bolsa por cima da cabeça e dos ombros, para facilitar a entrada. A porta se abre. Estendo a mão. fazendo sinal para o motorista, mas ele não responde. Nem olha. Uma senhora muito gorda sai, arrumando o casaco, amarrando o cachecol, ajeitando os cabelos. Gestos automáticos sem vaidade. Galanteio levemente seu desembarque. Sorrio com alívio.
A porta bate, o carro sai em disparada com outro vulto no interior.
Fico na calçada. Descompassado.