Figueira

Para Marcos

Era um lugar muito escuro e úmido.

Quando nasci, foi aqui que caí, talvez por acaso ou sorte. Dotado de inconsciência mágica, agarrei-me àquele húmus, àquela lama fria. Com todos os reflexos, fiz um voto de permanência e dependência: “Cá fincarei meu destino”.

A floresta me acolheu com resignação e orei por ela com fé.

Eu cresci aqui, entre a rocha pré-histórica e o rio.

Ainda jovem figueira, na mobilidade obscura do destino das árvores, agarrei-me ao cascalho que rolava da montanha, comi da terra, respirei do ar e pacientemente espreguicei-me para cima e para baixo.

A floresta era um fluxo-refluxo, e com ela dialoguei.

Aqui estou, entre a rocha pré-histórica e o rio.

Escuta aqui, os espíritos da floresta.

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