A casinha colorida

Na Patagônia, numa planície que se perde na vista, tem uma pequena casa colorida, com chapéu de fumaça dançando no telhado.

Assim de longe, caminhando pela estrada que corta em linha reta os campos selvagens, é fácil reconhecer a construção solitária. Ladeada por duas magnólias que florescem quando bem entendem, a casinha tem duas janelas azuis e uma porta vermelha.

Ao aproximar-se, percebe-se o poço acocorado no gramado, a clarabóia que beija o céu e a chaminé que rasteja pela parede; o tijolo rosado, os gerânios acrobatas e o parapeito anfitrião. E lá, nas janelas, cortinas entreabertas.

A casinha colorida da Patagônia é hospitaleira. Quando se chega entre os dois minúsculos canteiros de vinha brava, a porta abre-se suavemente e os sinos de latão cantarolam boas-vindas. Na soleira, o capacho amacia-se e o lustre rendado ilumina-se. Na diminuta sala, uma grande poltrona arreganha-se. Nas paredes de madeira, os retratos sorriem. E, da escada que sobe decidida, um perfume almiscarado acena.

Se um dia você se aventurar por aquelas bandas, vá desarmado de curiosidade. Vá só e entre sem perguntas. Suba a escada sem hesitação, sem medo, sem desejo. Lá em cima, tem um único quarto com duas janelas e uma grande cama fofa. Dispa-se sem vergonha, deite-se sem pudor, durma sem despertar.

A casinha colorida da Patagônia é para onde vão todos aqueles que sonham. A casinha colorida da Patagônia é para nunca mais voltar.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Connect with Facebook