Uma anjo passou voando por cima da multidão aglomerada. Uma velha de profundas olheiras e rasgos na face virou-se e encarou a transparente aparição.
Foi então que ele caiu e perdeu-se na turba contaminada.
A queda, abrupta e incontrolável, dissipou a memória do ser celeste, para sempre. Mas, de susto, ele despertou e viu tragédia. O anjo caído rastejou na lama, tateou, impregnou-se de sobrevivência. De inveja, de fome, de medo, de ignorância. De sorriso e calor, de desejo e sonho, de pergunta e fé. O anjo perdido arrastou-se na fauna, na formas infinitesimais, no orgânico. Expulso, ele engatinhou nos sulcos e inaugurou virgens cenários.
Atônito, amnésico, perdido, ele procurou, agarrando seus finitos sentidos onde podia.
A anciã morrera naquele suspiro e jazia de braços cruzados, esperança nos lábios.
Um grito parido rasgou o passado, ecoou no porvir. Um baby nasceu, da agonia do fim, da distração de um anjo.