Ciranda

Lá na praia, tinha uma sereia namoradeira a se bronzear.

Com a cabeleira desaguando nos seios, ela ressonava e era como as ondas do mar. O sol púbere lambia-lhe o ventre, o vento afoito soprava seu gozo e até a areia colhia o ócio da bela.

Você sabe amar, morena, sabe gargalhar e se esbaldar?

A sereia responde de lá e com a boca molhada de sal, se põe a cantar. Cadência lenta, a linda balança a cauda, ritmando o despertar.

De todos os lados, Janaína atrai barcas e jangadas náufragas. O horizonte finda de velas arreadas e os homens pulam. Mil braços tremelicam, confusão, atropelo no mar. A sereia canta e é de encantar.

Mas o que é isso, o que vem de lá? Vamos dar uma espiada. Um velho coroca, de carruagem, bastão de caramujos e olhar de fogo, cruza. Ele vem de hipocampos gigantes roubar a sereia que cala o mar.

Espia só. Pescadores e marujos abanam, rastejam e choram. Ninguém entende nada. Nem sinal da bela, homens no tormento, oferenda pilhada.

Foi lá na ilha de Itamaracá, e dizem que virou ciranda de dançar.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *

Connect with Facebook