Azaléia

Era um frufru barroco despontando da moita. No primeiro dia, foram só as anáguas lavadas; no segundo, as línguas pontudas, e no terceiro, todas as dobras carmesins. O buquê de azaléia dialogava assim com outras murchas épocas. Com o tempo antigo em que marcava a cerca ou delineava a alameda. Com o mais remoto ainda, quando fora plantado, numa manhã sem vaidade.

Com o passar dos anos, ele ficou mais prolixo, mais saudoso. E de sua explosão exalavam-se histórias e mais histórias. Das  chuvas temporãs, da carruagem a amputar-lhe os membros, da recepção nupcial do duque, do abandono nas trevas, do renascimento cheio de podas, dos muitos beijos e juras disfarçados.

Pois, após as longas estações, recolhido em disciplina, ele resplandescia um dia de maio, às vezes de abril. Era sua vez de acumular suas destiladas observações. Todas estavam lá, sempre as mesmas, acumuladas ou renovadas. E as novas. Invariavelmente ele explodia e tagarelava de um fôlego só, para quem quisesse ouvir.

Maria saiu para ornar, naquele dia, o altar, e Maria nem aí, ao cortar rico e longo ramalhete. Mas os santos pobres da paróquia choraram das histórias que a azaléia anciã desfiou.

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