Ele me deu um abraço muito forte. Quase me amassou inteiro. Foi uma sensação estranha, quase perdi o fôlego e, para sobreviver, abri a boca em desespero, sobre seu peito peludo. Finalmente ele me soltou e reencontrei o solo com a ponta dos pés.
Foi tudo tão de repente e tão gigantesco, que, quando olhei para ele, não tive muito tempo de raciocinar e tirar conclusões. Nas minhas narinas, aquele cheiro acre me embriagou.
Afastei-me do urso e voltei alquebrado para o carro. Devagar. E, quando finalmente me sentei no banco, comecei a tremer da cabeça aos pés. Ali me dei conta do perigo, retrocedi no tempo e quase desmaiei.
Mas aos poucos fui me acalmando. Afinal eu tinha sobrevivido ao ataque do urso. Agora era só voltar para casa, e, quem sabe, contar para os amigos aquela fantástica experiência.
Enquanto eu estava no meio dessas prosaicas conjecturas, ele reapareceu a meu lado, toque-toque no vidro. O urso negro estava lá. Dei um grito, ele urrou. Me escondi embaixo do volante, ele atrás de uma árvore.
E o jogo continuou. Eu me recuperei e ele reapareceu, toque-toque no vidro. Gritei e ele fugiu. E de novo, uma, duas, três vezes.
Finalmente me cansei daquele jogo e, quando ele toque-toque da quarta vez, abri a porta e desci.
Que fosse o que Deus quisesse.
O bicho me encarou, eu também. Ele abriu a boca, sorri para ele. Ele dobrou o focinho sobre o peito, eu fiz uma careta com as sobrancelhas. Ele avançou uma pata, eu, a mão direita. Dei um passo em sua direção, ele se ajoelhou. Deitou-se e eu sentei. Ficamos assim, longos minutos, olhando um no olho do outro.
Bem que a gente se deu. Urso é muito gente, sabe?
Dias depois eu voltei à floresta. Lá estava ele, com Dona Ursa e a molecada, me aguardando para um piquenique de mel e salmão.