Eleflight

Era um elefante alado que adorava passear pelas trepadeiras do jardim.

Ora, mas ele tinha o defeito desnaturado de assumir a cor das corolas que chupava. E nos dias de primavera, quando as glicínias, lágrimas-de-cristo, jasmins borboletas e congéias floresciam, o elefante ficava alaranjado, vermelho, branco, rosa, ou arco-íris quando a fome era grande.

Mas esse era apenas um pequeno defeito. Com o tempo, todo mundo acabou se acostumando com a digestão cromática do elefante. E não é que ficava uma beleza o jardim com o Proboscídeo colorindo os ares?

No entanto, o bicho também tinha outros mais graves sinais de estranheza. Por exemplo, sua voz de soprano ligeiro que ele desembrulhava em vocalises agudíssimo. Os gafanhotos, coitados, davam pulos de susto! Sem falar do jabuti. Com tanta tensão sonora, ele ficara anoréxico.

Além dessas particularidades, o elefante era sonânbulo e atormentava as mariposas com suas incursões descontroladas nas arandelas do terraço. Porque, como se não bastasse, ele tinha espírito de porco e sempre rodava em volta da luz, no sentido contrário das bruxas. Elas perdiam o norte, coitadas.

Tinha mais coisa. Ele jogava críquete. Já imaginaram o formigacídio que isso causava? O elefante também era um livre-pensador, laico, antipapista. Não precisa falar da raiva dos louva-a-deus! Para finalizar, o animal se apaixonava diariamente. Até por moscas e aranhas ele caía de amores. Que coisa!

Era, como dizia seu Manuel, o jardineiro: um elefante atrapalha. Um elefante voador atrapalha muita gente.

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