Babi e Cacá

A borboleta Babi apaixonou-se por Cacá. Foi uma paixão daquelas meio forçadas. É que a Babi já tinha passado da idade de casar; portanto, ficava enamorada com tudo o que voasse e tivesse pressa: colibris, abelhas e até helicópteros.

Era perto das onze da manhã e o sol escorregava sem convicção pelos eucaliptos. Babi caçava, tonta. Aqui, ali, acolá. De decepção em decepção das alturas, ela voava baixo. Foi quando avistou Cacá, um besouro verde, com tanta virilidade que fez Babi tremelicar até a ponta das asas e esquecer a modorna do coleóptero.

Babi, cada vez mais aflita com o atraso, posou-se, sem temores, no chifre de Cacá, e com graça lançou-lhe um “Oi, queridinho”.

Cacá, besouro experiente, fez-se de “não é comigo”.

Claro que Babi não percebeu o jogo e insistiu:

–    Calor, não?

Cacá ficou mudo e continuou sua caminhada pesada com Babi trepada no chifre.

–    Como você se chama, gato?

Finalmente Cacá respondeu sem entusiasmo.

–    Cacá
–    Eu, Babi. Calor, não?
–    É
–    Você faz o que na vida, bonitinho?
–    Sou coletor.

Babi ficou encantada com a profissão do seu novo amigo e, para enveredar a conversa em um terreno mais romântico, acrescentou:

–    Que interessante! Eu também! Coleto pólen, cores e juras de amor. E você?
–    Merda, bosta e cocô.

Babi não perdeu a classe e, engolindo um cagejado “interessante”, lançou-se em outro tema:

–    Você tem namorada?
–    Não.

Babi animou-se com a resposta e corou.

–    Você já teve alguma?
–    O que você acha?
–    Que não.
–    E esse chifre, então, o que é?
–    Um lindo chifre.
–    Lindo? Olha aqui dona borboleta, a minha namorada me colocou nesta situação, tá entendendo agora?

Babi não entendeu nada, mas assim mesmo insistiu.

–    Um chifre desse não é fácil de carregar, não é mesmo?
–    Não mesmo.
–    Você deve ser muito forte.

Cacá tocou-se com a sensibilidade de Babi.

–    Tem que ser sim.
–    Eu gosto de pessoas fortes.
–    Você não se importa?
–    Com o quê?
–    Que eu carregue um chifre desses?

Babi novamente não soube o que responder e simplesmente escorregou um: “Acho lindo”.

–    Mas dói. Dor de corno, sabe?
–    Imagino, Cacá.
–    Não é fácil, sabe, a maldita, a safada. Eu não esqueço, sabe?
–    Mas como poderia esquecer tanto peso, tanta dor?

Aconteceu assim e Cacá amou Babi que já amava Cacá.

E daí que os mal-entendidos eram subentendidos e os subentendidos, mal-entendidos?

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