São Paulo não é feia, é desleixada

São Paulo é uma cidade muito feia. Dizem. Quem liga para isso? Quem liga para as calçadas esburacadas, os lixos escancarados, obras horrendamente inacabadas, tapumes descascados? Quem liga para os acampamentos provisórios, para a gatolândia de fios, para os canteiros favelizados?

Ninguém está nem aí porque é provisório, “em construção”.

São Paulo é assim, nunca acaba. E o paulistano parece não se incomodar com esse “deixa pra depois”, pro próximo infeliz que se incomodar.

Mas claro, depois reclamam que é feia a cidade. Reclamam do Minhocão, do Borba Gato, do neoclassicismo burguês, do foguete rosa da Pedroso de Morais, da melancia da Avenida Brigadeiro Luis Antonio, do abrigo da Patriarca.

Mas o que é precisamente horrendo é o inacabado ou mal-acabado. Porque até o fora de moda, o cafona, o desproporcional, o chupado, o sem noção, é melhor do que o acampamento no qual vivemos. Um dia o teatro Municipal foi démodé; hoje é ícone. O Pacaembu foi arquitetura fascista; hoje é sobriamente belo. Os casarões da avenida Brasil foram novo-riquismo; hoje são nossa avenue Foch.

E nessa Dresden pós bombardeio, respiramos em ilhas de tranqüilidade: nos Jardins, na Aclimação, no Alto da Boa Vista, na Vila Nova Conceição. Não tem nada de genuinamente belo – se é que esse conceito existe – nesses oásis. O que existe sim é organização, esmero, carinho.
O que falta aqui é uma lei de zoneamento do temporário. Uma lei de manutenção e limpeza. Uma lei do acabamento.

E para disfarçar a falta de vergonha, vem essa polêmica discussão sobre a proibição radical de qualquer mídia exterior na cidade. De um lado os probos e conscientes administradores públicos a empunhar argumentos demagógicos. De outro os empresários desse negócio a defender hipócritos argumentos.

Tenho dó de imaginar São Paulo sem o disfarce da mídia exterior. Até prefiro uma empena gigante de uma morenaça de biquíni a um muro descascado. Prefiro um tapume de aparelho celular a um gradil caindo aos pedaços. Prefiro uma série de outdoor a uma medonha obra inacabada.

Pelo menos disfarça a lepra e o descaso.

0 thoughts on “São Paulo não é feia, é desleixada

  1. SP é igual 90% das grandes cidades do Brasil e do 3o. mundo em geral. Não sei por que o paulistano tem tanto complexo disto… Tem partes feias, partes bonitas, mas o autor só destacou o “feio”
    Meu Deus, dos 1500km2 da capital, as favelas ocupam apenas 23km2 enquanto os parques urbanos tem quase 50km2, e ás áreas naturais, Cantareira, Jaraguá, Serra do Mar, Bacia Guarapiranga-Billings, ocupam inacreditáveis 500km2.
    Há a área nobre que é bastante extensa, e fora dela, dezenas de bairros de classe média super agradáveis (Tatuapé, Santana, Penha, Horto, Interlagos, etc.)
    SP não é feia!!!

  2. Talvez seja por causa da eterna comparação com o Rio, que é um Balneário e precisa da beleza para atrair turistas… E mesmo no rio, a “cidade maravilhosa” resume-se à Zona sul/Barra que representa apenas 20% da cidade, o resto (80%) é absolutamente comum…

    Há de fato, metrópoles não-litorâneas mais bem estruturadas que a nossa, afinal nenhuma delas sofreu tanto com a migração desenfreada como SP… mas foram esses mesmos migrantes que ajudaram à construir esta potência GLOBAL que é Sampa… SP é linda e imponente!!!

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