Oskar Schell da Silva Santos

Quando ele falou “papai”, a TV era um eletrodoméstico – quase um liquidificador só que um pouco mais divertido, o videogame um equipamento de primeira necessidade como a geladeira, o MP3 player, o celular e os pokemons que têm super poderes.

Quando ele ganhou a primeira mesada – em dinheiro – ele já tinha comprado um ipod com o cartão do pai, já tinha duzentas músicas baixadas ilegalmente no computador e tinha conta no paypal.

Quando foi pra escola, ele já tinha uns vinte amigos na lista do seu comunicador instantâneo, era membro de várias comunidades e tinha um blog com dicas do Counter Strike e do Toni Hawk.

Quando viu o Ronaldinho jogar, num vídeo que um Kevmeister – seu amigo do MSN – mandou, ele já sabia que ele tinha um passe que valia mais que a casa, o carro, o computador, as três chuteiras e todos os seus CD’s piratas. E então ele mandou um e-mail para o Gaúcho e recebeu uma foto assinada que ele usou como wall-paper do seu celular.

Ele nem sabe disso, mas para ele a Web 2.0, que inaugura a era do conteúdo colaborativo em detrimento do conteúdo imposto, não é revolucionária, é a normalidade.

Para ele, o creative common, que defende a flexibilização do direito autoral e os sistemas abertos não é novidade, é o mundo como ele já é para ele.

Para ele, gostar de funk e de pagode, de música eletrônica e do brega, ao mesmo tempo, não é ignorância. Ele gosta e pronto.

Para ele, se vestir com as mesmas roupas de seus ídolos, escrever um novo português, mais rápido e direto, falar palavras em inglês, usar as marcas que ele ama, não é alienação – ele nem sabe o que é isso. Para ele, a diferença entre a réplica, o falsificado e o original é uma questão de preço e não de status.

E se alguém disser “você precisar pagar direito de uso de imagem, texto, música que não são de sua autoria”, ele vai responder “Ué, como assim, é lei agora?”

E se alguém disser “você tem que verificar a credibilidade da fonte antes de espalhar uma informação, um fato, uma imagem, um vídeo” ele vai dizer “Ué, como assim, tá verificado. Na Internet”.

E se alguém disser “Aqui no Brasil, é assim” ele vai mostrar o computador e dizer “O Brasil é aqui e aqui não é assim”.

Tem um monte de Oskars (do excelente “Extremamente alto, incrivelmente perto” – Jonathan Safran Foer – Editora Rocco) aqui na esquina. Aqui e em quase todas as esquinas do Brasil.

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