A revolução silenciosa que a mídia não vê

Deu na ilustrada que saiu dia 21/07: a banda mais popular do Brasil não tem gravadora, não está na lista das mais vendidas oficiais, não é hit das rádios FM e só recentemente apareceu na TV. Ela se chama Banda Calypso.

“Ah sim, claro, eu conheço! É aquele grupo que faz a tal da música Brega, sei sei!”.

Novela das oito, audiência alta, em todas as camadas sociais, regiões e idades. Qual é a música de abertura? Maria Bethânia cantando Copacabana.

“Claro, a grande estrela da música popular brasileira cantando o grande sucesso imortal!”

Não me interessa analisar a música da Calypso ou dos outros que compõe a maior fatia do PIB musical brasileiro (Bruno e Marrone, Zezé di Camargo e Luciano, Calcinha Preta, Aviões do Forró, Roberto Carlos, etc).

Também não me interessa avaliar a cantoria da Bethânia ou de qualquer outro monstro sagrado brasileiro.

Mas algumas palavras da segunda interjeição chamam a atenção: “popular” e “sucesso”.

Maria Bethânia é popular? Copacabana é sucesso?

Não é o que essa pesquisa diz. Não é o que se vê na real, na rua, nos shows, no gigantesco intercâmbio (já que não se pode propriamente falar de comércio) de música popular brasileira. Maria Bethânia não é popular e tampouco Copacabana é sucesso.

Onde é que a mídia se inspira portanto? Quem é que a mídia atinge? Contradição: a mídia se inspira de sua vetusta discoteca e atinge a população que não compra mais discos da Bethânia há décadas. Nem dela nem de ninguém.

Enquanto isso, nas redações londrinas dos jornais brasileiros, a crítica despreza os fenômenos populares ou os julga com velados preconceitos.

Enquanto isso, nos departamentos de marketing americanos das empresas brasileiras, os executivos copiam eventos internacionais e trazem astros para suas “experiências de marca” no Brasil.

Enquanto isso, nas criações holandesas ou argentinas das agências brasileiras, os profissionais escolhem os topos das listas como garotos propaganda ou compõem jingles medievais para martelar o consumidor “tapado, burro e primitivo”.

Enquanto isso, a população segue ouvindo – e adorando – a banda Calypso.

Tem algo de errado. Deve haver alguma coisa muita errada. E agora opinando: errados somos nós, não o povo.

Há sim, no país, uma revolução silenciosa em curso. Enorme, nunca vista e nunca imaginada. Uma revolução que desestabiliza as estruturas, sociais, jurídicas, culturais, econômicas. Uma revolução que é “A” saída para a injustiça social perversa do país.

Uma revolução que traz exemplos brilhantes, ícones sagrados, como o Chimbinha da Banda Calypso, ontem vendedor de peixe na feira no Pará, e que conseguiu romper todas as barreiras, sem mecenas, sem crítica, sem padrinho político, sem propaganda tradicional, sem mídia. Com seu talento, suas intuições, sua inteligência e sua fé.

E como eles, muitos outros, milhares, quem sabe milhões, que trabalham, sobrevivem, têm sucesso, nessa “margem” hoje muito maior e mais produtiva do que o centro alienígena ocupado pela mídia, pelas marcas e agências de propaganda.

0 thoughts on “A revolução silenciosa que a mídia não vê

  1. Mas acho que é dele (Shopenhauer) a frase: É extraordinário o poder da música ruim”. Concordo Schop! Escuta 1/2 hora de Calypso ou Fresno.

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