Em 2208 o mundo terá chegado a um nível tal de desenvolvimento humano que todas as necessidades básicas das pessoas estarão devidamente supridas: casa, comida e roupa lavada para todos. E melhor ainda, ninguém vai precisar vender sua força de trabalho. Tudo vai ser automático, planejado e sem falha.
Assim, a humanidade será livre, igualitária e fraterna. Ou não, mas supomos que sim. Vamos deixar de lado as teorias apocalípticas e os discursos catastróficos.
E façamos um pequeno exercício de ficção.
Nesse mundo, as pessoas adoram se tatuar. Se não nos diferenciamos mais pelas posses, nível cultural, nacionalidade, raça e tampouco pela aparência (se clona de tudo nesse futuro), é necessário projetar para a superfície, com a tatuagem, a individualidade perdida. E é muito divertido.
Nesse futuro aí, claro, a conectividade chegou a seu limite: todo mundo plenamente conectado e informado. O pessoal está cheio de chip enxertado que liga tudo a tudo, todo a todos, ao menor estímulo auto-provocado.
Tem também uma droga, uma espécie de antidepressivo universal que ajuda a turma a não pensar muito nas coisas difíceis da vida, na morte, nas divindades e nos mundos invisíveis. Todo mundo toma, sem exceção. É necessário e sem efeito colateral.
Um belo dia, uma grande epidemia começa a surgir. O sintoma inicial é o desaparecimento das tatuagens dos corpos das pessoas. Uma chaga preocupante.
Os atingidos imediatamente percebem uma correlação entre a abstinência à droga universal e o desaparecimento das tatuagens.
Mas por que algumas pessoas estão parando de se drogar? É inexplicável.
E a chaga se alastra paulatinamente.
Enquanto isso, em alguns locais distantes, zonas perdidas e selvagens que escaparam milagrosa ou propositalmente ao progresso, homens e mulheres rastejam assustados, comem detritos e vestem-se de peles de animais. Lutam pela sobrevivência.
Daphnes era uma dessas pessoas. Foi descoberta numa auto-estrada, atropelada.
Debaixo do seu braço esquerdo, encontraram vestígios amarelados de um dragão tatuado na pele.
Enquanto isso, em alguns locais distantes, zonas perdidas e selvagens que escaparam milagrosa ou propositalmente ao progresso, homens e mulheres rastejam assustados, comem detritos e vestem-se de peles de animais. Lutam pela sobrevivência.