Nossos mindsets

Na segunda metade dos anos 1990, começou a se falar com entusiasmo, que beirava por vezes a histeria, das promissoras revoluções que a Internet iria provocar na maneira como as pessoas se relacionam com as marcas, as empresas, as instâncias de poder e, claro, com as próprias.

Naquela época, poderíamos ter classificado os diferentes mindsets dos que lidavam com a questão, na nossa profissão, da seguinte maneira: os Apocalípticos Profetas, que pregavam o fim de todas as mídias tradicionais, passivas e opressoras; os Pacientes Observadores, clã formado pelos que estudavam e aguardavam; os Muristas, que falavam “Sim, talvez. Ou não”; finalmente, os Alienados Conservadores (a grande maioria das ovelhas), que desprezavam o fenômeno com argumentos falaciosos, confinando as mudanças a reduzidos e desprezíveis nichos.

Passaram-se alguns anos, o assunto obviamente não saiu de pauta, mas mudou de configuração: agora era o momento da bolha. “Noblesse oblige”, e os mindsets mudaram. Os Apocalípticos Profetas viraram arautos da modernidade e cabais exemplos de sucesso profissionais. Os Pacientes Observadores agiam numa retaguarda consistente e os Muristas se mexiam incomodados na cadeira. Mas os mais engraçados eram os Alienados Conservadores que poderíamos ter chamado de
Vira-Casacas Bobocas. Lançaram-se com “frisson” no estudo de casos, leituras mil, decorebas e outros sinais aparentes de douto envolvimento. Seus discursos eram entusiastas e se “envergonhavam” dos outros mindsets: dos Profetas, por dor-de-cotovelo; dos Observadores, por excesso de espírito crítico; dos Muristas, por falta de opinião.

E chegamos aos dias atuais. Os Apocalípticos Profetas, na sua maioria, foram buscar outras bandeiras sem negar origem nem ideais. Os Observadores estão mais ricos e os Muristas mais tolos. Já os Alienados Conservadores-Vira-Casacas, esses continuam alienados às novas frentes e vira-casacas na onda do momento.

E os mindsets se reproduzem fidedignamente para todas as tendências e ondas que aparecem na nossa praia. Foi assim com a Internet, com o branding, com as pesquisas de tendências, com a virada de mesa da Classe C, com a sustentabilidade, com a propaganda colaborativa, com o tal do integrated e o “what’s next”, que inflama os Apocalípticos, intriga os Observadores, aborrece os Muristas e apavora os Alienados.

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