Elefantes e outros humanos

Para Suda

Nossa história aconteceu num reino distante, num triângulo dourado, confluência de raças e destinos, terra de tráfegos intensos e futuros incertos.

O monarca, que pertencia a uma dinastia obscura e usurpadora, cultivava o excêntrico protocolo de dividir o trono com seus animais de estimação: galinhas ornamentais, najas domesticadas e elefantes sopranos.

Galináceos pela manhã, cobras à tarde e paquidermes à noite. Os dias de Fonte Única de Prazer eram divertidos, barulhentos, emocionantes e grandiosos. Nos entreatos a logística era sofrida, uma vez que najas comem galinhas e só existe uma coisa que tira uma naja do sério: competições entre membros tubulares. O risco era, portanto, da naja se regalar com a penosa e do elefante gabar-se com seu avantajado priapismo trombal.

Nenhum sábio jamais tinha sido capaz de resolver a questão de forma harmônica: A Ira dos Quatro Pontos Cardeais não suportava a idéia de ficar um instante sequer sem o suporte dos animais. Portanto, eram necessários  estoques inesgotáveis, imprevisíveis e caros dos animais.

Um dia, chegou ao reino um ancião que resolveu a charada,
propondo substituir os animais do protocolo. Os ministros entraram em polvorosa com a idéia. Cobriram o velho de ouro e mulheres.

Restava, no entanto, encontrar os tais animais. Tentaram trocar a naja por um gato, mas o bicho era egoísta e entediava Sono da Humanidade. Tentaram urso para o lugar da galinha, mas ele era preguiçoso e dormia demais. Um tigre pelo elefante, mas quem suportava o bafo? A arca inteira desfilou: animais exóticos, polares, temperados e tropicais, aquáticos, aéreos e terrestres, da carochinha, do além e dos infernos.

Outro dia, apareceu naqueles debates outro velho sábio. Embora ele concordasse com a tese inicial, sua proposta foi ainda mais revolucionária: o problema era a frágil galinha e a ciumenta naja. Portanto, a solução era colocar três galinhas ou três najas. Presentearam o gênio com montanhas de Viagras e dentaduras

Novamente, grandes estudos foram entabulados. Qual seria a melhor composição? Galinhas ou najas? O Senhor de Todos os Infinitos Sexos não podia ser envolvido, ocupado que estava com suas ciumentas concubinas, ou com cínicos e fofoqueiros eunucos.

Simularam a operação com um dos muitos sósias de Inigualável, Inimitável e Inclonável Poder do Oriente. Mas o resultado foi desastroso. As fogosas do sexo frágil entraram em cacarejante conflito com os interesses do harém. Já as serpentes, envenenaram os eunucos que se amotinaram.

Finalmente, aportou no reino um secular naturalista, filósofo, e astrônomo. Foi imediatamente assediado com o assunto e inquirido de resolver tão grave problema de Estado.

O homem deu graças às soluções apresentadas
anteriormente, que, por força da lógica, conduziam a uma única possibilidade: três elefantes deveriam suceder-se no trono de Luz da Terra, do Céu, dos Mares e de todos os Zoológicos. Ele saiu do país com incontáveis plásticas, implantes e vitaminas geriátricas.

Os três paquidermes guiaram por décadas o ócio de Bússola do Universo, cantando, pintando, dançando, fazendo tricô, macramê e petits-points com ele.

E quando A Memória do Mundo descansou, os animais choraram pesadas lágrimas de dor e saudade.

Elefantes são seres humanos mais humanos do que todos os humanos.

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