Todo dia é dia de alegrias. Pequenas, tímidas, particulares. Tem a alegria de acordar. Abrir os olhos, levantar, esticar-se e dar aquele grunhido bem longo. E coçar a planta do pé, esfregar os olhos e bagunçar os cabelos. O cheiro da toalha seca, a água escorrendo, o xixi delicioso, a boca lavada.
Quando Jim Musc despertou, não abriu logo os olhos. Farejou, tateou, arrepiou. Nada estava como antes. Mas o que era o antes? E o que era diferente? Finalmente ele abriu os olhos. Nem forma, nem cor, nem movimento. Só nada em cima, nada embaixo, nada dos lados.
Ele levantou-se quando percebeu que já estava de pé. Então, deitou-se. Mas ele estava deitado. Também. Caminhou, e não saiu do lugar porque nada não tem referência.
Lembrou-se dos outros, mas duvidou se eram, tinham sido ou haverão de ser. E tudo virou uma grande fumaça transparente. O redemoinho de memórias evaporou-se.
Pôs se a pensar, mas o devir desfez-se diante da lógica e o que era não era mais.
E aos poucos, Jim Musc esqueceu-se de Jim Musc. Perdeu-se. Sumiu.
Jim tinha morrido durante o sono. Sem perceber. Sem caretas nem choro. Sem despedidas nem remorsos.
Nem alegrias particulares nunca mais.