Deuses-Contadores ou Deuses-Compaixão?

Um bilhão de pessoas na terra estão abaixo da linha de pobreza. Centenas de milhões morrem de fome. E nós aqui preocupados em fazer xixi no banho para salvar a mata atlântica.

E entram em ação dois antagônicos argumentos: o do “melhor do que nada” e o do “não adianta”.

O do “melhor do que nada” é uma espécie de compensação falaciosa da nossa consciência. Como se Deuses-Contadores fizessem fichas-razão de débito/crédito das nossas ações. Uma moeda com conversão universal nos tornaria mais ou menos abonados para desfrutar de mais ou menos conforto no além. E no final de nossas vidas, a gente faz as contas com os donos do time-sharing do céu.

Argumento romanticamente ingênuo, principalmente quando em face do “não adianta”.

Esse poderoso argumento faz as contas antes. É mais esperto, mais informado e mais racional. Como se os Deuses fossem tolos velhinhos de infinita compaixão. As nossas esmolas nunca irão resolver a fome do mundo, nossos votos nunca serão mais poderosos do que a ganância dos poderosos. E no final das nossas vidas, a gente paga uma lápide mais ou menos rica, compra uma memória mais ou menos nobre.

Mas, enquanto isso, um terço da África está contaminada pelo vírus da AIDS, e a gente prefere dizer que a culpa é dos governos corruptos, das guerras intestinas, das rivalidades tribais ou de algum inconfessável preconceito. Ou que é culpa da classe média americana, dos interesses das multinacionais, do imperialismo (ou colonialismo) ou outro egoísmo burguês como nossas leis e direitos profanos.

E, enquanto a gente não decide que Deuses adorar, para os homens o mundo é bem pior do que quando eles foram inventados.

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