A redenção da política

Com ou sem Ben Self (diretor de tecnologia do partido democrata) se o marketing na rede não vai eleger os candidatos, ao menos vai ajudar muito a riscar do mapa uma legião de safados.

Acabou de ser aprovada na câmara uma lei que regulamenta a propaganda na Internet. A lei é ingênua e vaga, como todas que se referem à desfronteira, mas é um avanço. Tímido, mas avanço. Proíbem, por exemplo, a propaganda em sites comerciais, mas autoriza aqueles não comerciais a veicularem mensagens políticas, inclusive redes sociais e que tais. Como se fosse possível hoje, em tempos de posts patrocinados, discernir o que é “comercial” do que não é! Como se possível fosse proibir, tout court, na Internet!

Mas o fenômeno Obama excita as mentes. E muitos se excitam superestimando o aparato de marketing digital que a equipe do presidente desenvolveu. Obama não ganhou por causa, nem graças ao marketing e muito menos suportado ou amplificado pela Internet. O marketing foi consequência e não causa da eleição.

A Internet não é um palanque eleitoral e todos aqueles que a usarem como uma carreata espetaculosa vão quebrar a cara. Propaganda eleitoral paga, daquela que reproduz a lógica da mídia de massa, na Internet, não carece de controle nem proibição, é contrapropaganda.

A Internet é um fenômeno de sociedade baseado na espontaneidade, na voz individual sincera. É claro que pode-se fazer barulho, influenciar multidões de seguidores por algum tempo. Mas a Internet é muito mais pródiga em desmascarar e desnudar.

A lógica é inversa àquela da propaganda tradicional: a mentira convincente, porque bem contada, paradigma da propaganda de massa, tem vida breve nas mídias sociais e é totalmente incontrolável. Cedo ou tarde, o julgamento é avassalador e destroi reputações mal-intencionadas.

A propaganda eleitoral e a doação de campanha têm que ser totalmente livre na Internet, uma vez que a rede é autorregulamentada. E nesse território, a política se redime, pois a mentira, a manipulação, a sem-vergonhice, tem perna curta.

Se Obama ganhou as eleições foi devido ao fato de ele ser sincero e acreditar no seu discurso. E talvez seu opositor, mesmo afirmando suas convicções retrogradas teria tido outra performance, não tivesse sido ele suportado por anos de propaganda mentirosa.

Candidato, minta à vontade nas mídias tradicionais, ainda funciona um pouco. Mas, se quiser usar esse espaço livre, é melhor ser sincero, ou o eleitor te pega nas curvas da teia.

0 thoughts on “A redenção da política

  1. Excelente texto! Os partidos vao usar como benchmarck a rede K25 do Kassab… E o Lula? Será que projeta uma mega pareceria com o Orkut??? hahaha

  2. Também gostei, Coca, mas achei bastante otimista.

    Não sei se souberam que a eleição municipal aqui no rio foi bem competitiva (o paralelo com os EUA de Bush/Gore até foi usado pelos analistas)…. Lá pelas tantas, milhares de panfletos espalhados pela zona sul inteira, reduto gabeira, com um monte de acusações falsas e absolutamente caluniosas, com toda a espécie de ´referência´ que a massa ignara precisa para interpretar ´autoridade´.

    Apesar das notas nas colunas nos meios tradicionais (ancelmo, boechat, etc), apesar das matérias explicitando a pouca-vergonha e o golpe baixo (um dentre vários, diga-se de passsagem), há um grande vale entre percebermos a mentira e medirmos seus efeitos, entre identificarmos os responsáveis (como em qualquer crime, via motivação) e efetivamente responsabiliza-los.

    É sobre este vale que toda a a política brasileira é montada, e todos aqueles com uma proposta diferente tem de enfrentar estas forças para chegar lá. Não estou falando de partidos, mas de pessoas, como o Gabeira e alguns (mas não muitos) outros.

    O ponto aqui é: as mídias sociais trazem oportunidade para as pessoas certas colocarem na rua seu discurso, e as pessoas para quem este discurso faz diferença terão mais facilidade de ouvi-lo.

    Mas dá o mesmo poder para as pessoas erradas falarem para a grande massa de pessoas ignorantes que já utilizam estas ferramentas. Sim, elas estão lá, como em qualquer lugar.

    Como a pessoas erradas contam com os recursos da ´lógica tradicional, do espaço na tv ao dinheiro para produzir e distribuir panfletos caluniosos (sem medo de ser feliz), acredito que esta visão do Fernand ainda demora um tempo para acontecer… talvez seja o tempo suficiente para que a população torne-se efetivamente mais politizada (consequência de melhor educação) e o acesso a estes canais (ainda) alternativos de informação se consolidem. Não será na próxima eleição nem nesta década, na minha humilde opinião…

  3. Não subestime a velocidade dessa coisa aqui, Rodrigo… seja otimista, camarada!

  4. Gostaria de citar a animadora declaração do presidente do STE na Folha:

    FOLHA – O que o sr. achou de equiparar a internet com TV?
    AYRES BRITTO – Sobre internet, eu não falo como presidente do TSE, mas como ministro. O TSE ainda não tem posição definida. Entendo que não há como regulamentar o uso da internet. A internet tem dois méritos: mobiliza a sociedade de uma forma interativa, que em época de eleição deve ser turbinada, não intimidada. E está criando uma nova sociedade civil mundial. Qualquer regulamentação no nível dos Estados é provinciana.

    FOLHA – É uma tentativa de censura à internet?
    AYRES BRITTO – A internet não pode ser regulada. A imprensa regula o Estado, e a internet se contrapõe à própria versão da imprensa sobre as coisas. A internet é o espaço da liberdade absoluta, para além da liberdade de imprensa.

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