Brasil um país de, ainda, e-excluídos

Aqui se vota na urna eletrônica e ainda tem político comprando voto a troco de chinelo.

Aqui se faz declaração de imposto de renda pela Internet e a sonegação mora nas barbas do poder.

Aqui se faz BO pelo computador e ainda tem filas kafkianas no Detran.

Aqui 50% da penetração das pessoas que acessam a Internet ganham menos de 2 salários mínimos de renda familiar, e 50% das famílias ainda ganham menos de 2 salários mínimos.

Aqui acesso à Internet não tem nada a ver com renda. Somos o país das correlações arrevesadas.

A penetração de Internet no Brasil é de 35%, segundo a última pesquisa F/Radar. Vamos nos comparar primeiro com outros pobres anabolizados: na Rússia é 26%, incluindo as matrioscas; no México, 23%, sem contar os zapatistas; na China 23%, segundo o mais democrático governo do mundo, e na Índia 6%, incluindo as vacas sagradas.  Isso significa que somos o mais digital dos nossos primos.

Já nos Estados Unidos, a penetração de Internet é de 73% e nos países europeus, por aí também. Essa diferença tem alguma coisa a ver com grana?

Pois vejamos: a renda per capita dos Estados Unidos é de 46 mil dólares (ou era, antes do catastrobushismo, sei lá).  A do Brasil é de quase 8 mil dólares.

Ou seja, somos quase 6 vezes mais pobres mas só 1,6 vez menos conectados.

Então, se ainda somos mais pobres do que Botsuana – aqui 31% estão abaixo do nível de pobreza contra 30% no país africano –, a gente deu um jeito e já dá pra falar em inclusão de acesso (e não digital). Obrigado, informalidade.

Já o acesso em casa são outros quinhentos. A penetração é ridícula ainda: pouco mais de 20%: 63% nas classes AB, 19% na C e ridículos 2% na DE.

Mas será que isso tem alguma importância? Talvez não tenha, na teoria, afinal de contas, se a Internet é canal de relacionamento, não precisamos estar em casa para xavecar, nem convém. Se Internet é informação, idem. Se Internet é atividade profissional, menos ainda. Quem tem tempo em casa de fazer muito mais do que dormir?

Mas tem sim: para comprar. Onde já se viu “comprar pela Internet fora de casa?” 72% dos internautas que já fizeram compras pela Internet o fizeram de casa. Vai saber por quê!

Em outras palavras, se a maioria das pessoas no Brasil acessa a Internet fora de casa (77%), esse monte de gente nunca comprou.

Aí está o nosso novo desafio, o gargalo que não tem nenhuma importância pra quase tudo, menos para aquilo que parece ser uma das salvações da lavoura da economia: o comércio eletrônico.

Esta é a nova fronteira: a inclusão comercial.

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