Pedala Rubinho!

Uma manhã, a notícia correu, o sabonete do banheiro acabou e as perspectivas de férias suspeitas animaram os ânimos. O funcionário “D” estaria com a porcina. No recém convertido chiqueiro, em poucas horas, muitos já estavam com gripe suína psicológica.

Mais rápido que as pedaladas do @barrichelo para ser um @manomenezes, a febre não é um vírus, é um microblog. E vamos dar a mão à palmatória, o Twitter é o maior termômetro da insanidade “people” desde o lançamento dos tablóides. Todos os dias, milhares naufragam nas páginas dos veteranos anônimos, homônimos ou heterônimos. Do fôlego que resta pouco se sabe ainda, mas o fenômeno warholiano é um processo de falsidade ideológica coletiva. Nunca tantos esperaram tanto da síndrome da fama gratuita.

Está todo mundo com vontade mas ninguém sabe o nome do jogo, quais são as regras, nem o que se ganha. Se é reputação rápida ou razão de existir, o fato é que ensaiam-se muitos exercícios literários de tagarelice represada.

Mas a despretensão do twitter é tocante. Era uma agenda compartilhada, um registro autobiográfico (“what are you doing”) mas, para ser bem sucedido, tem que ser um almanaque de inteligência em pílulas de sabedoria (“what are thinking” ou “how do you think”).

Certa vez perguntaram para um jogador de futebol americano ilustre qual era sua opinião sobre a vigilância eletrônica dos provedores de acesso americanos e o desbocado dissertou uma hora sobre o a liberdade de expressão com teses tão assentadas quanto imbecis.

O twitter é uma ferramenta dos diabos: todo mundo tem algo a dizer sobre qualquer coisa. E cedo ou tarde, todos serão acometidos dessa febre, esse que vos fala inclusive.

Não há vacina contra a masturbação opinativa, sua precocidade de 140 caracteres e a presunção colateral de celebridade.

2 thoughts on “Pedala Rubinho!

  1. Cara, uma das coisas revolucionárias da internet é essa parada de eu ser a minha própria Rede Globo. Eu sou dono do meu blog, twitter, facebook, e portanto, senhor da minha produção. As coisas q tem visibilidade ali são (apenas) as relevantes no contexto da minha vida. E serão acessadas por quem tiver um mínimo de identificação com o q eu tenho expressas. E o mais importante: nos meus domínios, não presto contas, e todo o conteúdo é 100% “rabo-preso” free.

    E vc me pergunta se isso não é o meu desejo de ser celebridade, que finalmente encontrou uma via de manifestação.

    O fato de haver tal via não quer dizer necessariamente que estará a serviço do meu desejo de glória de exposição. Arma de fogo também serve pra parar bandido. E a web 2.0 também serve pra quem tem conteúdo e tem coisas interessantes pra falar.

    Assim como foi antes desse fenômeno, no mundo haverá frivolidades e celebridades, tanto como discussões relevantes e gente interessante. A questão é q agora está tudo mais exposto, e a proporção frivolidade X discussões relevantes, que sempre pendeu ao primeiro lado da equação, está escancarada. E esse desequilíbrio tão patente nos decepciona. Já não temos como nos proteger, não há pré-filtro e temos que gastar cada vez mais energia pra separar o “junk food” do “food for thought”.

    Mas pense: uma das “tagarelices represadas” até então pode ser a de um gênio que ainda não haviamos descoberto. Vc acha q ele deveria ter sido mantido no ostracismo só para que não nos incomodasse o barulho da maioria de novas cyber-sub-celebridades?

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