Quando a crise é conjuntural, a gente espera. Quando ela é estrutural, a gente se adapta. Mas quando ela é existencial, melhor sair correndo.
Segundo estatísticas, 70 mil publicitários perderam o emprego com a recessão.
Uma parte deles foi demitida porque as verbas publicitárias são bipolares: investimento na bonança, despesa quando tem que tirar o pai da forca. Essa é a crise de conjuntura. Passa.
Uma outra porção grande deve ter saído e ainda vai sair porque o modelo de negócio entrou numa puberdade tardia e autodestrutiva. Ainda tem gente do métier defendendo a desregulamentação, que coloca em risco as conquistas do passado. Esse cada-um-por si e a Globo por todos é estrutural. Dá-lhe jogo de cintura.
Mas quando a profissão de publicitário vira uma espécie de meca dourada, que atrai pessoas com veleidades e vaidades artísticas, mimadas, um soluço do mercado vira crise existencial. Não é capricho.
O mercado não está só em crise porque o mundo está em crise. Nem só por conta e obra exclusiva dos tubarões social climbers.
A crise é de descolamento da realidade e teimosia amargurada. É a crise da autorreferência ignorante e pretensiosa. A crise da curiosidade seletiva e, portanto, burra.
Ainda tem publicitário com preconceito de comunicador instantâneo, que tem medo de rede social e que defende a censura da Internet com malditos filtros de conteúdo.
70 mil ex-publicitários é pouco!
Em tempo: Lemonade Movie
Taí um ótimo comentário acerca do Lemonade: “70 mil ex-publicitários é pouco”. Como sempre, preciso.
Michael S. do REM diria: It´s the end of the world as we know it and I feel fine.
“- twitter?”
“- ah, bobo”
Afiado e Nítido.
Me lembra aquela piada de 10 advogados numa kombi que cairam num rio =)
Bom, este post fala apenas do mercado Brasil, dos profissionais brasileiros mimados, pelo o que deu para entender. Porém, muitas demissões estão ocorrendo ao redor do mundo, cada um com suas razões, mas principalmente porque no resto do mundo a crise é muito mais por causa da quebra dos meios tradicionais do que por problemas no modelo.
Porém, já que você falou especificamente do Brasil, eu vejo que a causa de um volume tão grande de demissões na propaganda tem suas raízes na falta planejamento dos clientes quanto à propaganda e, principalmente, na falta de profissionalismo dos próprios publicitários quanto à defesa do seu mercado.
O modelo da propaganda brasileira, como todos sabemos, é único no mundo: agências grandes concentram tudo dentro delas (criação, produção e mídia), não existe incentivo de estudos para os funcionários, não incentivam seus profissionais a darem aulas pra repassarem o conhecimento para as próximas gerações, entregam trabalhos nem sempre com muito planejamento ou criatividade porque seus profissionais nem sempre são realmente capacitados para isso, os prazos são ridículos, não existe nenhuma tabela padrão de custos, pagam baixo os funcionários que “realmente trabalham” e alto os profissionais obsoletos/indicações, e pouco reconhecem quem trabalha duro para resolver o dia-a-dia diante dos profissionais que só aparecem na agência pra fazer a agência ganhar prêmios internacionais. Este é o nosso mercado.
Fora, claro, e isso eu não poderia deixar de comentar, os “piratas” da propaganda (que não são poucos), aquelas pessoas que estão na propaganda só para aumentar seus lucros pessoais independente de como estes lucros serão gerados, já que a propaganda realmente gera lucros exorbitantes graças ao custo baixo para a ativação e funcionamento de uma agência no Brasil (quem tem um computador com internet já se considera agência).
Mesmo com este panorama, a crise está acontecendo e ninguém, até agora, chamou para a discussão sobre o modelo da propaganda brasileira. Ninguém está tomando frente das discussões sobre o modelo. Vejo, até, alguns esforços aqui, outros ali… mas discussão com embate de idéias que é bom, mesmo, ninguém quer se colocar na posição de afrontar um modelo completamente irracional, desumano e auto-destrutivo, sustentado pelas agências grandes, que a publicidade brasileira está envolvida a anos.
As agências grandes (Almap, Ogilvy, África, JWT, AgênciaClick, DM9) estão quietinhas porque eles sabem que este é o modelo que as sustenta no tamanho que são. Estes, sim, estão só esperando a crise porque sabem que pra eles vai passar e a marca deles vai se sustentar. Mesmo que no período atual eles estejam perdendo posição frente às agências pequenas.
Mas, pra dizer bem a verdade, pelo tanto de agências brasileiras que eu já trabalhei, é claro e nítido que a maioria dos publicitários está mais preocupada com seu próprio umbigo. Tanto que todos que lerem este post não vão se olhar como causas diretas destas 70 mil demissões. Mas são! Todos somos! Os velhos e os novos.
Pô, existem 70 mil publicitários no Brasil? Mesmo?
Impressionante. Mais de uma década de internet comercial e os putos ainda tem medo da web… O termo “dinossauro da propaganda” faz cada vez mais sentido.
Em homenagem a todos publicitários que perderam os empregos.
The year the media died.
http://www.youtube.com/watch?v=6CqRcCHk_Pc
Passo.
Cara impressionante é como você fala 70.00 é pouco!
Eu achei muito bom esse post. A juniorização das empresas de propaganda e o infantilismo que existe é tremenda. O BV reina, a estratégia na maioria das agências é disfarçada. E assim se tocava a vida. Impérios contruídos e pouco retorno. Agora, que entramos na era da escasses, onde o retorno sobressai. Não o retorno subjetivo, mas o ali, na ponta do lápis. Há agências que já notaram isso e preferem não ser uma ferramente online ou offline, mas uma ideia que usa ferramentas pra entregar retorno na ponta do lápis.
Os dinossauros que se cuidem, e se puderem e entendenrem leiam FUNK BUSINESS. Pode dar mais insight que livros de imagens somente.
Gostei do post…. interessante…
E introdução genial: “Quando a crise é conjuntural, a gente espera. Quando ela é estrutural, a gente se adapta. Mas quando ela é existencial, melhor sair correndo.” … muito bom…rs
O.o