A luz ainda não despontara por cima da tampa escura e Ibiajara já driblava as sombras adormecidas da floresta. Há muito ele perseguia a égua redomona. Dias percorrendo os pastos naturais, farejando as pegadas, assuntando os murmúrios do vento e as revoadas assustadas. Ela se enfronhou na mata e o capataz perseguiu sua malícia. Quando o dia salpicou o solo, o caboclo perdeu-se. Girou, girou, girou, perdeu-se. Restava-lhe o coco da safada que ele não perdera das vistas. Era seu guia no labirinto. E foi no quinto dia de breu, que ele aplacou a fome comendo do fungo alucinógeno que salvou-lhe a pele e o emprego: a redomona voltou para o picadeiro.
O elo perdido pode ter sido um cogumelo alucinógeno que nossos primos primatas comiam quando perseguiam animais pelas fezes. Foi o despertar da consciência e a consequente queda: o homem perdeu-se quando desconectou-se da Terra em troca de uma pretensiosa ligação com Deus. Nossa interdependência com o além dá-nos vantagens competitivas. O aquém está à nossa mercê, para servir.
Pois um dia, a soberba vai estrumbicar o homem.
Assim como os fungos que, há bilhões de anos, sacaram que não há possibilidade de sobrevivência sem interdependência, a Internet é nosso sistema redentor. A moeda de inserção é a quantidade de pontos de contato e a capacidade que desenvolvemos de nos relacionarmos com eles.
A Internet e a extraordinária força das redes sociais e sistemas de co-criação reproduzem uma ecologia de interdependência entre os homens e suas obras. Mais chance de destaque e sobrevivência tem aquele com mais relacionamentos, amigos, contatos e seguidores. Mais chance de cotejar a verdade, aquelas criações com mais suporte e colaboração.
Se você acha que observar de longe, sem macular a preciosa existência é mais digno de sua superioridade, que chá você tomou para acreditar em Papai Noel?
Olá Alphen, tenho acompanhado seu blog justamente porque me identifico com a forma contundente como você expõe todas as questões. No “território livre” da internet, vejo que as pessoas estão sendo sugadas pelo excesso. Todo mundo tem algo a dizer, sobre tudo. Todo mundo tem algo a mostrar, sobre qualquer coisa. Arte, realidade, criação se tornaram etéreos e desmancham a qualquer olhar mais apurado. Um extintor na parede é arte? Depende se o “artista” é cool é queridinho de celebs e blogueiros. O filtro está deficiente. Mas, ironia do destino, em publicidade isso é um grande prêmio, não? Coloca lá o artista da novela das 8, usa linguagem assertiva e…pimba! Vende.
No caso do twitter, ainda percebo todo mundo atirando para todos os lados, há os que buscam ser relevantes num oceano de irrelevâncias, há os que apenas digerem tudo o que é postado e ainda os que nem entenderam pra que diabos aquilo serve. Cada um tem uma função e, enquanto se delineiam as ferramentas para melhor se aproveitar isso, vamos por tentativa e erro. As redes sociais são o megafone do povo. Quem tiver ouvidos, ouça. Amém.