Se pode botox, photoshop pode

–    Edna para Marina: Querida, você por aqui? Quem diria que você iria se render à tecnologia! Você tá um show na foto!
–    Marina para Edna: Obrigado, fofa. Quanto tempo né? Viu minha menina que linda?
–    Edna para Marina: Loirona linda, um pecado! Como crescem rápido, não é mesmo?
–    Marina para Edna: A Pita é morena. A loira sou eu hahahaha
–    Edna para Marina: Ah tá, claro, nossa, os anos não passam para você. Beijão.

Uma tia antiga era muito vaidosa. Ela não podia ver uma superfície brilhante que ela já posava, com olhar “fatale” e a boca trejeitando “je suis comme je suis, je suis faite comme ça ” (olhar caô e trejeito de cachorra, em livre tradução contemporânea). Seu melhor lado era o esquerdo, de esguelha, e como ela estava sempre se mirando, a gente só via o direito, o ruim. O bom, era só pra ela.

Você nunca reparou que ninguém percebe que aquela foto lá não foi exatamente ontem, nem naquele todo dia que você vive? Que nunca comentaram aquele ligeiro borrado providencial no rosto? Ou ainda a prestidigitação do fotografo cujo olhar lhe fez tão belamente natural ou naturalmente belo?

Nunca, porque todo post num perfil amigo ou prospect, tem telhado de vidro. Basta clicar de volta e checar as mesmas providências estilísticas no tratamento do remetente.

Para quem serve tantas horas esculpindo um perfil na web? Antes dos outros, o exercício de auto-definição e auto-projeção é bom pra si. O narcisismo é um prazer difuso, a termo, e o gozo em perspectiva é infinito.

Para despir-se do ego, precisa ter um. Cultivez votre jardin, mon cher Candide!

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